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Eliana Alves Cruz

Eliana Alves Cruz é carioca, escritora, roteirista e jornalista. Foi a ganhadora do Prêmio Jabuti 2022 na categoria Contos, pelo livro “A vestida”. É autora dos também premiados romances Água de barrela, O crime do cais do Valongo; Nada digo de ti, que em ti não veja; e Solitária. Tem ainda dois livros infantis e está em cerca de 20 antologias. Foi colunista do The Intercept Brasil, UOL e atuou como chefe de imprensa da Confederação Brasileira de Natação.

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O menino Jesus nasceu

Ele está no meio de nós... e estamos na torcida para que sobreviva
25/12/2024 | 05h00

Hoje é 25 de dezembro. O dia em que a cristandade apontou como sendo a data do nascimento de Jesus Cristo. Neste momento não importa nada. Não importa a necessidade tão humana de comprovação histórica. São Tomé fica para depois diante da gigante, monumental, colossal vontade da fé. A força que move adiante multidões na esperança de um amanhã aliviado.

Estamos em mais um 25 de dezembro e ele está, mais uma vez, no meio de nós. Está mesmo. Não há um minuto nas imagens e palavras que nos cercam que não afirme isso. Não há um político, uma navegação básica em redes sociais, um anúncio público, uma pregação que não o cite. Guerras literais e subjetivas evocam seu nome. Templos anunciam a sua volta em tom ameaçador, mas…

O menino palestino Jesus nasceu em um estábulo porque não puderam abrigar nem por uma noite sua mãe grávida na última semana de gestação; precisou emigrar para se esconder em outro país porque veio ao mundo num tempo de ditadores capazes de mandar assassinar crianças.

Os últimos números em Gaza dão conta de mais de 45 mil mortos. Um em cada três corpos é de uma criança que estava em casa, na escola ou em algum hospital. No Brasil, temos cerca de 5 mil crianças e adolescentes assassinados por ano.

O jovem Jesus andou falando sobre amor, independência, liberdade, perdão, não julgamento, solidariedade, empatia, compaixão. Andou se abrigando nas casas que o recebiam, comendo em lugares que o convidavam, dormindo ao relento com a sua turma.

Em 2024, foram registrados mais de 10 mil ataques violentos a moradores em situação de rua no Brasil. Ele andou salvando mulheres do apedrejamento também.

O Brasil é o quinto maior assassino de mulheres e lidera o ranking de mortes violentas de pessoas trans.

Jesus meteu a boca. Falou coragem e poder que não emana necessariamente de nenhum cargo. Terminou entregue aos inimigos por sacerdotes do seu próprio povo. Povo este que o trocou por outro na salvação do corredor da morte e o expôs a cínicos dirigentes que lavaram suas mãos. O ativista Jesus foi torturado pelo estado e chorado pelas mulheres e o amigos da sua quebrada.

O Brasil tem mais mortos pela polícia dos que os 20 país do G20 somados. Oito entre cada 10 mortos são pessoas negras.

Apesar de tudo isso, ele está aí e segue nos desafiando a vencer essa morte anunciada, premeditada, acalentada, programada para os que, como ele, vivem pelas margens.  Apesar de tantas bocas sujas que o trazem na ponta da língua, sem jamais seguir absolutamente nada do que ele disse.

Óbvio que os números, as datas, talvez até muitos fatos do passado histórico não sejam estes, mas os dados da atualidade trazidos aqui são mais que reais. Chegamos a um ponto inédito da encruzilhada do mundo e para que o aniversariante do dia seja comemorado, vamos precisar mais do que a força da fé. Vamos precisar reconstruir um meio (ambiente) e um “nós” que faça sentido.

“Paz na Terra aos homens (mulheres, crianças, pessoas não binárias, pessoas trans, velhos, jovens, indígenas, brancos, negros, asiáticos, latinos… paz a todos os seres que habitam este planeta) de boa vontade”.

 

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