Minha antiga terapeuta costumava dizer que “quem menos tempo tem, mais tempo tem”, uma alusão à falta de gestão de tempo que eu claramente não fazia naquela época. Doze anos se passaram, mudei hábitos e comportamentos, mas ainda luto diariamente para “caber” tudo que “acho” que preciso fazer em 24 horas por dia.
Muita coisa mudou em pouco mais de uma década, em especial a velocidade nas respostas que são exigidas pelos algoritmos, risquinhos azuis, notificações e telas. É tudo para ontem.
O escritor Alberto Villas relembra em seu livro que dá nome à coluna de hoje (Onde foi parar nosso tempo) que outro dia mesmo a gente ainda fervia o leite no fogão, desempelotava o Tody, ficava na fila no vasilhame, descongelava a geladeira, lavava fralda, esperava a foto revelar, escrevia cartas e procurava os caminhos no mapa. Como é que a gente tinha tempo? Me sinto enganada pela propaganda que dizia que a tecnologia ia economizar nossas vidas.
Tenho um amigo querido que consegue responder a todos os e-mails quase que instantaneamente, não sei como ele consegue, mas entendo que a contagem em vermelho da caixa postal por responder é gatilho de ansiedade.
Uma pesquisa do Instituto Ipsos Brasil para o Nubank Ultravioleta sobre como os brasileiros lidam com o tempo no dia a dia traz números assustadores que merecem sim um tempo para a nossa reflexão.
Vamos lá. Considerando uma expectativa de vida de 76 anos e 58 anos de vida adulta, o brasileiro tem em média um quarto de seu tempo livre (26%), ou 15 anos, sendo apenas 824 dias de descanso e ócio. Para as mulheres essa conta é ainda menor. Gastamos mais tempo que os homens com a limpeza da casa, 49%, trabalhos domésticos, 29% e cuidados com os filhos, 26%.
Homens e mulheres passam 4 anos de vida no trânsito e 7 são gastos em telas de smartphones, TV e jogos eletrônicos.
Do outro lado, os cuidados pessoais ocupam apenas 1000 dias de toda uma existência e as atividades ligadas ao esporte e lazer, apenas 2,2 anos. Na equação entre tempo ocupado e livre, a conta é bastante preocupante: 76% x 26%.
Eu nem vou entrar no mérito da qualidade do tempo livre, falta de recurso e oportunidade. Isso a gente está cansando de saber que quando se é pobre, periférico e sobretudo preto, não há tempo de pensar sobre não haver tempo. De todo modo, dediquei meu tempo aqui para trazer esses dados na expectativa de que, de alguma forma, possamos ter mais consciência sobre o que estamos fazendo com esse recurso tão valioso. O que você tem feito com o seu tempo?
SAIBA MAIS:
O que você faria se tivesse certeza de que ninguém está olhando?
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