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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Os muitos acertos e o grande erro da campanha de Boulos

O autodenominado coach deveria estar preso, não promovendo sabatinas
26/10/2024 | 11h49

É praticamente impossível escapar da maior polêmica da reta final da campanha eleitoral de São Paulo: Guilherme Boulos deveria ou não ter se submetido à sabatina de Pablo Marçal?
Para alguns, a resposta será dada em números. Se Boulos conquistar muitos votos de eleitores de Marçal, a live terá valido a pena.

De minha parte, respondo já: atraindo ou não os votos dos “marçalistas”, a participação na sabatina foi um erro gigantesco.

O autodenominado coach é um desqualificado. É mentiroso contumaz, foi condenado por dar golpes em idosos, cometeu uma enxurrada de crimes na campanha, incluindo responsabilizar mentirosamente Tabata Amaral pela morte do pai e divulgar um laudo falso sobre dependência química de Boulos.

Deveria estar preso, não promovendo sabatinas.

Se a Justiça não o prendeu, vamos, então, banalizar seus crimes, conversando com o coach de igual para igual?

Tô fora.

Se muitos do campo progressista condenaram os veículos de comunicação por darem espaço a Marçal nos debates eleitorais, tal o seu perfil delinquente, como aceitar agora que ele tenha se tornado um interlocutor válido?

“Ah, mas ele já está legitimado pelos votos que recebeu”, argumentam alguns.

Se é assim, se os votos realmente legitimam o personagem como alguém com capacidade para inquirir candidatos, figuras como Nikolas Ferreira, Carla Zambelli, André Fernandes e Gustavo Gayer teriam o mesmo status?

A legitimação em jogo, nesse caso, é o “aprovo” de uma importante figura da esquerda, que se soma aos extremistas de direita na naturalização de Pablo Marçal.

Até à sabatina, Marçal era um criminoso que a esquerda contava as horas para ver na cadeia. Depois da live, pode apresentar-se como alguém digno de trocar ideias sobre o futuro de São Paulo.

Um dos pontos que mais me assusta é que Boulos e seus apoiadores tenham considerado que a conversa com o coach foi civilizada, sem que ele tenha lançado mão de nenhuma armadilha.

Quer armadilha maior que o título da live, “Entrevista de emprego”? É Marçal colocando-se acima do entrevistado, dizendo o que ele podia ou não podia falar, repreendendo Boulos para que não soltasse “baixarias” contra Nunes (logo ele!), apresentando sua candidatura a presidente em 2026. Tudo com o aval do candidato do PSOL/PT.

Se isso não é armadilha, não sei mais o que será.

Mas… e se isso fizer Boulos ganhar a eleição (algo bastante improvável)?

Na minha opinião, nem assim terá valido a pena. Normalizar os crimes de Marçal é algo muito perigoso para o país.

Pragmatismo, sim — mas com limites.

Não deixa de ser bonita a argumentação de Boulos, de que não se recusa a debater com ninguém.

Foi colocando em prática esse pensamento que ele teve seu ponto alto na campanha. Nas últimas semanas, intensificou a conversa com eleitores, muitos que a princípio diziam que nunca votariam nele.

Os vídeos com esses momentos, divulgados em suas redes sociais, são emocionantes. Mostram que a velha forma do debate olho no olho com o eleitor ainda dá resultado — ainda mais com massificação nas plataformas digitais.

Esses encontros foram acertos incontestáveis da campanha de Boulos, que mesmo se não for eleito sairá da temporada eleitoral de 2024 bem maior do que entrou.

Acabaram ficando, no entanto, em segundo plano.

Foram ofuscados pela sabatina com Marçal.

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