Todo ano, há 64 anos, sabemos que poucos dias após o encerramento dos Jogos Olímpicos chegam elas, as Paralimpíadas. O Brasil participa da competição desde 1972 e é uma das grandes potências paralímpicas, com 373 medalhas. Desde os Jogos de Pequim 2008 o país é top 10 entre os mais medalhados.
Paris terá a sua cerimônia de abertura no próximo dia 28 de agosto e verá, até 8 de setembro, uma sequência frenética não apenas de competições, mas de histórias de vida. Um espetáculo, uma ode à existência plena, um show de beleza e humanidade! Mas há algo incômodo.
A versão das Olimpíadas para quem possui deficiência acontece após uma debandada de público, atletas e, principalmente, das estrelas da mídia que cobriram a primeira competição em muitos canais distintos, numa programação de quase 24 horas. A visibilidade, a torcida do público, o conhecimento sobre os e as atletas… nada é o mesmo. Tudo adquire uma aura de anticlímax injusta, pouco inteligente e estigmatizadora, mas muito reveladora das sociedades contemporâneas tão afeitas a padrões excludentes de beleza, feminilidade, masculinidade e de noções falseadas de perfeição.
O curioso é que o lema “citius, altius, fortius”, ou seja, “mais rápido, mais alto e mais forte” nunca teve o seu significado tão em xeque. A discussão sobre, afinal, quais são os limites para quem compete em cada modalidade não pediu licença para invadir os próprios Jogos Olímpicos. Vide toda a polêmica recentíssima que envolveu a lutadora argelina Imane Khelif, uma mulher cisgênero que se viu alvo de uma campanha sórdida apenas porque foge aos modelos estabelecidos sabe-se lá por quem; ou ainda a mesatenista Bruna Alexandre que, amputada do braço direito, usou o esquerdo para fazer história e ser a primeira do país nas duas competições: Olimpíadas e Paralimpíadas.
A guerra está no DNA de ambas, pois na antiguidade grega, os Jogos eram um instante de pausa nas eternas contendas, mas eram dominados pela aristocracia que via neles a chance de exaltar a sua supremacia, em modalidades muito úteis nos campos destas mesmas batalhas.
Por tempos sem conta na história humana, quem não possuía um corpo “perfeito” era alijado do convívio social, condenado a uma vida com limitações muito além das que naturalmente já impunham. Foi para a reabilitação de paraplégicos ex-combatentes na Segunda Guerra Mundial que surgiu, em 1948, a primeira competição internacional organizada para deficientes. O que temos hoje como Paralimpíadas, aconteceu oficialmente em 1960, só depois 17 edições desde os primeiros Jogos de verão, em 1896.
São muitas as histórias que levam a uma deficiência. Algumas envolvem tragédias outras simplesmente estão lá desde o nascimento. Não importa. Não existem dois seres humanos iguais no planeta inteiro. O conceito de normalidade vai sendo encalacrado pela crescente aceitação das diferenças inevitáveis, pela evolução da tecnologia, das ciências médicas, dos estudos do movimento. A inclusão de novas modalidades nos calendários olímpicos também aponta para uma busca de maior contato com as novas gerações e com as formas quase infinitas de manifestações do corpo humano. O limiar onde o esporte toca a arte.
E por falar em arte, os campeões na antiguidade brigavam para vencer, mas também porque esta vitória conferia o direito de ver seus nomes e seus feitos cantados pelos poetas. Não à toa, o calendário do evento Olímpico antigo incluía recitais e debates com filósofos. Está aí algo que seria lindo resgatar, o desejo pela poesia do mundo.
Aqui vai um convite: Vamos torcer pelos atletas paralímpicos com a mesma paixão. Vamos fulminar a invisibilidade.
Jogos Paralímpicos de Paris 2024
- Abertura: 28/08.
- Encerramento: 08/09.
- Número de modalidades: 22.
- Número de Países: 184.
- Número de atletas: 4.400.
- Delegação Brasileira: 254 atletas.
- Número de Medalhas do Brasil na história: 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes.
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