Por Cleber Lourenço
O deputado Mário Heringer, líder do PDT na Câmara do Deputados e aliado próximo do ministro Carlos Lupi, confirmou ao ICL Notícias que a eventual saída de Lupi da Previdência Social poderá resultar no rompimento do PDT com a base do governo Lula. A declaração foi feita após o deputado ser questionado sobre rumores de que Lupi poderia entregar o cargo ainda hoje.
A declaração foi feita após o deputado ser questionado sobre rumores de que Lupi poderia entregar o cargo ainda hoje.
“Pode”, respondeu Heringer, ao ser perguntado diretamente se o ministro poderia tomar essa decisão a qualquer momento. Inicialmente, o deputado evitou cravar uma definição, afirmando que “tudo pode acontecer, inclusive nada”. Mas, em seguida, foi categórico ao afirmar que, se confirmada a saída, o PDT também se retirará da base de apoio ao governo no Congresso Nacional.
Segundo Heringer, trata-se de uma “decisão de foro íntimo” do ministro, reforçando que não se trata de um movimento partidário articulado, mas sim de uma escolha pessoal de Lupi. A fala indica que o partido respeitará a escolha do ministro, mas que sua presença no primeiro escalão é central para a permanência do PDT na base aliada.
O tom da conversa foi interpretado por interlocutores da própria legenda como um sinal de que o ambiente político entre o PDT e o Planalto está se deteriorando. Deputados da sigla admitem reservadamente que a relação com o governo tem sido marcada por frustrações, especialmente no que se refere à ocupação de espaços e à condução de políticas públicas relacionadas à pasta da Previdência.
Permanência de Lupi
A permanência de Lupi vinha sendo questionada internamente diante de avaliações críticas sobre sua gestão à frente da Previdência. Interlocutores do governo relatam dificuldades de articulação, falhas de comunicação e cobranças por entregas que não se concretizaram. Além disso, a investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre fraudes no INSS fragilizou ainda mais sua posição. Embora a maior parte dos problemas identificados tenham origem em gestões anteriores, a resposta considerada insuficiente da atual administração acentuou o desgaste.

Ministro Carlos Lupi (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
A própria CGU reconheceu que as fraudes no sistema previdenciário são estruturais e remontam a pelo menos 2019, mas esperava-se do atual ministério maior celeridade na implementação de mecanismos de controle e transparência. Lupi, por sua vez, optou por manter o discurso de continuidade e evitar confrontos diretos com servidores e estruturas herdadas, o que desagradou a parte da base parlamentar.
Apesar disso, até o momento não há confirmação oficial sobre sua saída. O presidente Lula vinha evitando trocas na Esplanada após crises em outros ministérios, como ocorreu com Juscelino Filho e Silvio Almeida. Há receio de que uma nova substituição possa abrir brechas para conflitos internos e rearranjos na base aliada. No entanto, caso a saída se concretize, pode significar não apenas a perda de um ministro, mas também de um partido que, embora hoje tenha pouca bancada, conserva influência histórica e atuação relevante em pautas sociais.
Nos bastidores do Planalto, a entrevista de Heringer é vista como um recado claro de que o partido não aceitará ser alijado sem reação. Uma eventual demissão de Lupi, se conduzida sem negociação com a cúpula pedetista, pode ser interpretada como um gesto hostil. Por isso, a fala de Heringer pode estar antecipando uma tentativa de forçar o governo a manter o partido no centro das decisões. O desfecho, no entanto, depende exclusivamente do ministro Carlos Lupi — e, segundo o próprio líder do PDT, essa decisão pode acontecer a qualquer momento.
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