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Vivian Mesquita

Apresentadora, Repórter e Editora Chefe Executiva com passagens pela Editora Abril, Rede Globo e Canais ESPN Disney. Especialista em esportes de ação em mercado mundial. Profissional com formação consolidada na área de mídia e conteúdo esportivo, com mais de 20 anos de experiência em TV. Relacionamento sólido com a comunidade criativa local, produtoras, talentos, atletas, marcas e mídia. Habilidades em gestão de equipes, processos organizacionais e comunicação. Apresentadora do ICL Notícias - 1ª Edição.

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PEC do estuprador é sentença de morte para a vítima

As políticas públicas deveriam respeitar a autonomia das mulheres sobre seus corpos
29/11/2024 | 05h01

A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe o aborto no Brasil na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) é a tradução da política brasileira sendo feita em cima de corpos femininos.

Hoje, a legislação já autoriza o aborto em três situações. Quando a gestação traz risco de morte à mulher, nos casos em que o feto não tem cérebro (anencéfalo) e quando a gravidez é decorrente de estupro. A votação na CCJ é, portanto, um retrocesso em direitos já garantidos.

A tramitação da proposta ainda passa por aprovações no plenário da Câmara e do Senado. Independente do caminho, a pergunta é: qual o interesse numa pauta que pode deixar a lei brasileira tão dura quanto países como o Afeganistão, notoriamente conhecido pelas violações aos direitos femininos?

A resposta pode ser o oportunismo da Casa. Aprovar uma PEC que protege mais o estuprador do que a vítima, com 35 votos favoráveis e 15 contrários, na mesma semana em que Bolsonaro, Braga Netto, General Heleno e outros 34 homens são indiciados no inquérito do Golpe de Estado, não é coincidência.

Em 2023, o Brasil registou um crime de estupro a cada 6 minutos. Os dados do Anuário da Violência mostram que 77,6% dos casos aconteceram com menores de 14 anos, principalmente meninas. A maioria desses agressores está dentro das casas das vítimas. O que o Congresso aprovou na Comissão é que essas meninas não têm direito algum. São crianças violadas, gerando crianças, filhos da violência, crueldade e do desamparo ao qual a infância brasileira está exposta.

A PEC do estuprador não vai evitar que os abortos. A medida coloca em risco a saúde e a vida de mulheres, principalmente as pobres. O aborto é uma das cinco principais causas de mortalidade materna no Brasil. Em 2018, uma mulher morreu a cada 2 dias no país. Entre 2010 e 2021, 60% dos óbitos notificados no SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) foram de mulheres com menos de 30 anos, 62% delas eram negras.

Quem tem acesso vai buscar uma clínica particular para interromper a gravidez indesejada. Quem mais morre por aborto no Brasil são mulheres negras, jovens, solteiras e com até o ensino fundamental. A setença de morte da proposta é para essas mulheres. O aborto inseguro mata.

As políticas públicas deveriam respeitar a autonomia das mulheres sobre seus corpos e amparar vítimas de crimes tão cruéis como o estupro. Mas o Brasil do Congresso atual é o país do café e pão com leite condensado, salve-se quem puder.

 

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