Perder um amigo é perder um amor. É perder um pedaço da gente. É sofrer na carne o deixar ir de uma parte de nossas histórias, de nossas lembranças. É desconfiar do que já foi a mais completa tradução de segurança. É duvidar de quem se é e do que se foi. É se dar conta de que aquele espaço, agora vazio, é único. É aprender a viver a falta.
Quando não é o amigo que parte, mas a amizade que se encerra, o luto é de corpo presente, embora ausente. A dor infecciona o corpo, envenena a mente, sufoca o ambiente. A gente quase para de respirar. Aquele lugar seguro onde tudo era certeza vira uma imensa interrogação de intenções.
Perder uma amizade importante é ter que recalcular a rota da vida.
Às vezes, as diferenças, mal-entendidos ou até mesmo o tempo podem afastar pessoas, ainda que tenham afeição uma pela outra. Mas quando o pacto de confiança se rompe, em qualquer relação, é como se curar da miopia. A visão se amplia. As coisas não acabam de um dia para o outro, os fins dão sinais.
Ignoramos os alertas para nos proteger de uma experiência emocional difícil, a separação, a tristeza, a frustração e a saudade. Tem a fase da raiva, do sentimento de injustiça, da cobrança e só depois, quando conseguimos aceitar o inevitável, podemos começar a refletir sobre o que aprendemos com as nossas amizades e parcerias na vida.
Sempre teremos boas lembranças, claro, mas é importante analisar e até agradecer por algo que talvez não tenha feito tão bem assim. Relações cuja base é a manipulação são perigosas. Amizades podem até ter um prazo de validade transformadas em doces lembranças, mas se — depois do luto — encontrar leveza onde antes havia falta, talvez seja um presente do universo, ou livramento, se preferir.