O grupo de pesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), identificou 40 mortes violentas de religiosos de matriz africana em casos de racismo religioso desde 2002. Rio de Janeiro, com 10, e Bahia, com 7, são os estados onde ocorreram a maior quantidade de mortes desse tipo. Do total de casos, 30 são de lideranças religiosas.
O estudo, divulgado nesta terça-feira (21), que também é o Dia Nacional de Combate ao Racismo Religioso, abrange um período até maior de análise sobre casos de racismo religioso registrados de 1996 a 2023. A pesquisa foi feita com base em 1,2 mil publicações de notícias do período.
Um dos casos mais emblemáticos foi o assassinato da liderança religiosa e líder quilombola, Mãe Bernadete Pacífico, em 2023. A maioria das mortes violentas, porém, é de religiosos do sexo masculino, sendo sacerdotes de religiões de matriz africana em sua maioria. Todas as cinco mulheres vítimas de mortes violentas eram sacerdotisas, sendo uma mulher transgênero.
Dos 239 religiosos e religiosas de matriz africana que foram alvo de outras violações identificadas nas publicações, 42,3% eram mulheres.
Do total analisado, foram observados 512 ataques de natureza étnico-racial-religiosa, contra religiosos, terreiros e monumentos ou locais com referência às religiões de matriz africana e quanto a religiões de matriz africana de forma generalizada, como discursos de ódio e ofensas. Além disso, a pesquisa revelou que o Rio de Janeiro lidera os casos de disputas envolvendo o domínio armado.
O relatório aponta que as invasões e depredações de terreiros representam 25% dos casos mapeados, seguidas por agressões verbais (14,5%) e impedimentos de culto (9%). O levantamento identificou 29 incidentes relacionados à aplicação da Lei 10.639/2003, que inclui a história e a cultura afro-brasileira no currículo escolar.
Além de documentar as violações, o relatório apontou 558 iniciativas de mobilização social e respostas públicas, incluindo atos culturais, campanhas de conscientização e proposições legislativas.
A professora Ana Paula Miranda, coordenadora do Ginga-UFF, ressaltou que o estudo vai além de mapear as violações, oferecendo subsídios importantes para a formulação de políticas públicas, pois retrata também toda a rede de mobilização no país. “O trabalho do Ginga é uma tentativa de dar visibilidade às violações e, ao mesmo tempo, destacar a força e a resistência dos povos de terreiro. Queremos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, afirma a pesquisadora.
O acervo de publicações digitais estará disponível para consulta pública no site do Ginga www.gingauff.com.br .