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Com processo de privatização cancelado, Petrobras Biocombustível será fundamental na descarbonização da estatal

Petrobras Biocombustível (Pbio) terá sua produção de combustível renovável fortalecida. Há cerca de 270 usinas de biocombustíveis no País, quase 40 só de biodiesel, enquanto a operação da produção de petróleo ainda é quase monopolista
23/01/2023 | 11h59

Todos os processos de privatização da Petrobras serão revistos e alguns serão cancelados. É o caso da Petrobras Biocombustível S.A. (Pbio), que terá sua produção combustível renovável fortalecida, e ainda terá o papel de descarbonização da estatal. Já circula no governo que o processo será interrompido pelo futuro presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Prates aguarda o aval da área de conformidade da empresa e do Conselho de Administração para assumir a presidência da estatal.

Representantes dos funcionários no Conselho de Administração da Petrobras também informaram que os planos estratégico e de desinvestimentos da Petrobras serão revistos, inclusive os biocombustíveis da companhia, seja como biodiesel puro, seja como diesel verde. 

A Petrobras Biocombustível é dona de três usinas no Sudeste e no Nordeste. Além de atuação na descarbonização da estatal, ela continuará atuando no desenvolvimento de biocombustíveis de última geração, como o Diesel R (renovável) e o bioQAV. Fundada em 2008, a Petrobras Biocombustível foi por anos uma das maiores produtoras de biodiesel do País. Tem usinas capazes de processar óleo de soja, algodão, palma, gordura animal e óleos residuais. A variedade tenta aproveitar a dinâmica sazonal dos preços de cada matéria-prima. A operação caiu a partir de 2016. Foi quando houve, inclusive, a “hibernação” (paralisação) da usina de Quixadá (CE).

Na maior parte de sua existência, a Petrobras Biocombustível foi deficitária ou apresentou lucro modesto para o sistema Petrobras. Isso aconteceu por quatro anos entre 2017 e 2020, quando houve lucro de R$ 154,5 milhões. Em 2021, houve prejuízo líquido de R$ 241,8 milhões. Já em 2022, até setembro, déficit foi de R$ 117 milhões.

O ex-diretor de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME) e pesquisador da Embrapa, Miguel Lacerda, afirma, na reportagem publicada pelo jornal O Estado de S Paulo, que há cerca de 270 usinas de biocombustíveis no País, quase 40 só de biodiesel, enquanto a operação da produção de petróleo ainda é quase monopolista.

Na avaliação do pesquisador, os prejuízos da Pbio aconteceram em linha com todo o setor. Pesa o fato de as três usinas ficarem em estados (Minas, Bahia e Ceará) sem benefício tributário para a atividade. O problema envolve sobretudo ICMS reduzido, como acontece em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Também os prejuízos foram causados por fatores externos, como dinâmica de preços, e recuo no mandato (proporção na gasolina) do biodiesel. Ele deveria avançar para 15% mas voltou a 10%. Nesse caso, o objetivo foi frear o preço final dos combustíveis.

O governo Jair Bolsonaro (PL) manteve o percentual de biodiesel no diesel em 10%. Também cancelou a diretriz de elevá-lo a 15% já neste ano. Reduziu ainda impostos sobre combustíveis fósseis.

Petrobras Biocombustível  pode ser rentável,  mas nunca com as mesmas margens de produção de petróleo por serem negócios diferentes

O pesquisador da Embrapa diz que a Pbio pode ser perfeitamente rentável. Destaca, porém, que a subsidiária nunca terá margens comparáveis às da exploração e produção de petróleo. Os motivos são a natureza do negócio e a competição no setor.

Na avaliação do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), com representante no grupo de transição, voltado à energia, é imprescindível que o governo Lula retome o aumento gradual dos porcentuais de biodiesel na mistura do diesel.

Para o Ineep, a Petrobras Biocombustível deve ser encarada para além do desempenho financeiro. A empresa é um vetor de descarbonização da Petrobras. Também é indutora da economia agrícola no entorno de suas unidades. Além disso, defende maior integração da subsidiária de biocombustível com outros negócios renováveis. É o caso do hidrogênio verde, cuja produção exige fonte de energia limpa, destaca.

As principais economias do mundo têm mantido políticas agressivas de fomento a combustíveis de origem vegetal. É o que fazem Estados Unidos, China e Índia, Já o Brasil, pioneiro na tecnologia, recuou nos últimos anos, explica o Ineep.

O consultor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) explica que o plano de venda da Pbio fazia sentido no auge da crise da Petrobras. Na avaliação do CBIE, a Petrobras está saudável do ponto de vista econômico-financeiro e deve prevalecer a taxa de retorno econômica e não a política, que marcou o início da Pbio.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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