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PF afirma que ex-CEO da Americanas vendeu bens e enviou dinheiro a paraísos fiscais

Investigação aponta que movimentações atípicas e tentativa de blindagem de patrimônio
28/06/2024 | 15h26

Investigações da Polícia Federal (PF) apontam que o ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez, se desfez de bens no Brasil e enviou o dinheiro a paraísos fiscais. A informação é dos jornalistas Fabio Serapião e Lucas Marchesini, da Folha de S. Paulo.

As investigações são citadas pelo juiz Márcio Carvalho, responsável pela autorização da prisão do executivo e da ex-diretora Anna Saicali no âmbito da Operação Disclosure. A PF investiga as fraudes contábeis que deram origem ao rombo bilionário na rede varejista.

Gutierrez, que tem cidadania espanhola, e a ex-diretora não estão no Brasil e são considerados foragidos pela Justiça. Ambos foram incluídos na difusão vermelha da Interpol.

O ex-CEO é alvo de inquérito da PF pelos crimes de uso de informação privilegiada, manipulação de mercado e associação criminosa. O executivo também é alvo de investigação sobre lavagem de dinheiro com o objetivo de “ocultação patrimonial”.

A PF apura também a fuga de Gutierrez, que deixou o Brasil em 29 de junho de 2023, após instauração do inquérito pela corporação e da criação da CPI das Americana no Congresso Nacional.

Vestígios

Segundo a PF, e-mails e anotações foram encontradas em um iPad e mostrariam que Gutierrez criou um “engenhoso esquema societário, com diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais”.

“As anotações do iPad também demonstram a preocupação de Miguel Gutierrez em blindar o seu patrimônio após deixar o cargo de diretor presidente das Americanas, sabedor que o escândalo iria explodir”, informou a PF.

A PF informou ainda que o “plano” do executivo seria transferir todos os imóveis em seu nome para empresas ligadas a familiares e enviar os valores a outras empresas ligadas a ele e aos próprios familiares no exterior.

“Foram encontradas anotações que ilustram o esquema societário com remessas de valores, empréstimos e doações entre as empresas ligadas a Miguel Gutierrez”.

Em um e-mail, a PF encontrou informações sobre uma transação de US$ 1,5 milhão com uma empresa sediada em Nassau, nas Bahamas.

Defesa

A defesa de Miguel Gutierrez informou que não teve acesso aos autos das medidas cautelares. Os advogados afirmam que “Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.

Operação da PF

A Polícia Federal (PF) cumpre mandados de busca e apreensão contra ex-diretores e pessoas ligadas a Americanas, na manhã desta quinta-feira (27). Dentre os alvos, está o ex-CEO da empresa, Miguel Gutierrez. O montante das fraudes sob investigação na empresa é estimado em R$ 25 bilhões.

Também são alvos da PF Anna Christina Soteto, Anna Saicali, Carlos Eduardo Padilha, Fabien Picavet, Fabio Abrate, Jean Pierre Ferreira, João Guerra Duarte Neto, José Timotheo de Barros, Luiz Augusto Henriques, Marcio Cruz Meirelles, Maria Chirstina Do Nascimento, Murilo dos Santos Correa e Raoni Lapagesse Franco.

Investigação

A PF utiliza como base para a ação de hoje as delações premiadas de Marcelo Nunes, que foi diretor financeiro da empresa, e Flávia Carneiro, responsável pela Controladoria da B2W. De acordo com as investigações, as ações dos ex-funcionários da empresa tinham como finalidade alcançar metas financeiras internas e fomentar bonificações. Também era manipulado, de forma ilícita, o mercado de ações.

São investigados os crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e associação criminosa. Os mandados foram autorizados pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, onde um prédio da empresa também é alvo de busca e apreensão.

Americanas

Em 2023, o rombo nas contas da Americanas foi revelado, com inconsistências contábeis da ordem de mais de R$ 20 bilhões. A empresa entrou em recuperação judicial e apontou que as inconsistências eram, na verdade, fraudes contábeis cometidas por ex-funcionários da rede varejista.

Em novembro de 2023, ao explicar o quarto adiamento da divulgação das demonstrações financeiras de 2022 e da revisão do balanço de 2021 à CVM, a empresa afirmou que foi “vítima de uma fraude sofisticada e muito bem arquitetada, o que tornou a compilação e análise de suas demonstrações financeiras históricas uma tarefa extremamente desafiadora e complexa”.

Em 19 de janeiro, a empresa entrou em recuperação judicial, com dívidas declaradas de R$ 42,5 bilhões. Os maiores bancos do Brasil são os principais credores da varejista. A partir daí, a empresa travou uma batalha judicial com as instituições financeiras. Os bancos, à época, não aceitavam receber calote da companhia.

Em junho, a empresa assumiu fraude nos balanços, com um relatório que apontou que demonstrações financeiras da varejista vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa, o que inflou seus resultados em R$ 25,3 bilhões.

A antiga diretoria da Americanas atravessou décadas na empresa. À exceção do ex-CEO Miguel Gutierrez, que se aposentou ao final de 2022 para passar o bastão a Rial, os demais diretores foram afastados semanas depois de o escândalo vir à tona.

A atuação dos três principais acionistas da varejista, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, sócios da empresa de private equity 3G Capital, também foi alvo de investigações.

No final de setembro, a Comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigava a Americanas encerrou suas atividades sem apontar culpados.

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