Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo
O sargento da Polícia Militar de São Paulo Thiago Guerra virou réu pela morte da adolescente Victoria Manoelly dos Santos, de 16 anos. A Justiça de São Paulo também manteve a prisão preventiva do agente. Victoria morreu após levar um tiro quando Thiago deu uma coronhada no irmão dela, durante uma abordagem na zona leste da capital paulista.
A decisão foi publicada na terça-feira (4/2) e é assinada pelo juiz Renan Oliveira Zanetti. O magistrado concordou integralmente com a denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), que entendeu que Thiago praticou homicídio qualificado.

Victoria Manoelly dos Santos, de 16 anos, foi morta em 10 de janeiro na frente da mãe e do irmão. (Foto: Reprodução)
Para o promotor Fernando Barbado Rubin, o policial não observou as doutrinas das polícias ao dar uma coronhada no irmão de Victoria. “Assim agindo, o denunciado assumiu o risco de produzir o resultado morte da ofendida”, escreveu.
Para Fernando, o crime foi praticado com recurso que dificultou a defesa de Victória, já que a adolescente estava detida e cercada por policiais quando foi atingida. Foi solicitado também acesso às imagens, em alta resolução e com áudio, da câmera corporal usada por Thiago durante a ocorrência. O pedido foi acatado pelo Justiça.
Adolescente assassinada
Victória Manoelly foi morta com um tiro disparado pela arma do sargento Thiago Guerra no dia 10 de janeiro, em Guaianases, na zona leste de São Paulo. Victória e o irmão Kauê Alexandre dos Santos Lima, de 22 anos, estavam com a mãe Vanessa Priscila dos Santos, em frente a um bar. Do estabelecimento, o grupo viu uma pessoa correndo, aparentemente fugindo de policiais.
Depois de passar correndo, Thiago voltou ao bar e passou a abordar Kauê. Guerra acertou uma coronhada no jovem — momento em que a arma disparou e acertou Victória. Para a Polícia Civil, o PM agiu com dolo eventual por assumir o risco de matar ao dar a coronhada. O PM teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
A Ponte revelou que o velório da adolescente foi marcado pela presença policial. Um familiar da adolescente contou que os mesmos agentes que participaram da ocorrência circularam em viaturas no entorno do velório, em aparente atitude de intimidação, próximo ao Cemitério Municipal de Guaianases.
O que diz a SSP
A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) sobre o caso. Em nota, a pasta informou que o Inquérito Policia Militar que apura o caso está em andamento.
“A Polícia Militar não comenta decisões judiciais. O policial citado continua preso no Presídio Militar Romão Gomes e o Inquérito Policial Militar (IPM) relacionado a ele está em andamento. A PM reforça que não compactua com excessos ou desvios de conduta e pune exemplarmente aqueles que desobedecem aos protocolos estabelecidos pela Corporação”, diz o texto.
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