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PM que matou jovem pelas costas no Rio terá pena decidida por Justiça Militar

Júri considerou que assassino, já condenado por homicídio triplo em 2013, não teve intenção de matar
07/03/2024 | 14h46

“Essa luta não pode ser só minha. Acabaram com a minha vida”, gritou Ana Paula de Oliveira no julgamento que condenou por homicídio culposo (sem intenção de matar) o PM que assassinou seu filho.

Johnatha de Oliveira Lima tinha 19 anos quando foi morto com um tiro nas costas pelo PM Alessandro Marcelino de Souza. Foi no Complexo de Manguinhos, onde Ana Paula vive até hoje, há nove anos.

“Eu vou sair daqui hoje com esse assassino livre, com a certeza da impunidade”, lamentou Ana Paula.

Com a sentença, após quase uma década de espera, o caso vai para a Justiça Militar, que vai decidir qual será a pena do assassino. A decisão revoltou Ana Paula, fundadora do grupo Mães de Manguinhos e uma das vozes mais atuantes na luta por direitos humanos e contra a brutalidade da polícia com pessoas negras.

O réu já havia sido preso antes, acusado de matar três pessoas em 2013, mas mesmo assim o júri decidiu que ele não teve intenção de matar o filho de Ana Paula.

Segundo a polícia, o homicídio triplo ocorreu no dia 25 de março no bairro Vila Camorim. Cinco jovens teriam sido abordados por Alessandro e um colega, Alberto Rodrigues Filho, mas dois conseguiram fugir e reconheceram os agentes mais tarde.

Souza e Rodrigues Filho tiveram a prisão temporária expedida pela Justiça e foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe.

No caso de Johnatha, testemunhas e sua família afirmam que ele  estava levando um pavê de sobremesa para a avó, em outra casa na mesma comunidade, quando foi baleado pelas costas.

“Essa é a resposta que a sociedade dá pra mim?”, perguntou Ana Paula Oliveira aos prantos. “A sociedade compactua com policiais assassinos. A culpa é da sociedade de PMs continuarem matando nossos filhos. Ele já foi réu por outros homicídios. E eu aqui com a dor de ter meu filho assassinado com um tiro nas costas. Essa luta não pode ser só minha. Acabaram com a minha vida e da minha família.”

Foram ouvidas nove testemunhas, sendo cinco de acusação e quatro de defesa.

Em seu depoimento, Alessandro Marcelino disse que atirou sete vezes na direção de criminosos na favela. Na época, a PM afirmou que Johnatha foi autor de disparos de arma de fogo contra a sede da Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos, o que nunca foi provado e a família sempre negou.

Antes do julgamento, mães de vítimas, familiares e integrantes de vários movimentos e organizações fizeram um ato na porta do Tribunal de Justiça do Rio.

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