Por Carolina Bataier – Brasil de Fato
Profissionais da educação organizaram, nesta quarta-feira (23), uma mobilização nacional em defesa da educação pública de qualidade, com paralisações em todo o país.
O movimento, engajado por sindicatos filiados à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), integra as ações da 26ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, campanha anual que ressalta a importância da valorização profissional, do investimento adequado e da gestão democrática nas escolas públicas.
O que os professores protestam
Entre os temas de destaque da mobilização estão as privatizações do setor e a necessidade da valorização dos professores e demais trabalhadores da educação, por meio de reajuste do piso salarial, planos de carreira e concursos públicos.
“Uma coisa que tem chamado muito a atenção é a ausência de concurso público para a carreira do magistério”, explica Rosilene Corrêa, secretária de Finanças da CNTE. “Não estou nem me referindo às demais funções, que isso já é uma situação caótica do quanto nós já temos um quadro precarizado de terceirização. Mas é claro que a defesa é do concurso público para todos os cargos da educação, mas em se tratando de magistério, temos um caos, estamos vivendo um apagão docente”, diz.
De acordo com a secretária, mais de 50% dos professores de educação básica hoje em sala de aula estão em contratação temporária. “Isso é um verdadeiro desmonte do Estado, da educação pública”, denuncia.

Protesto em Recife. (Foto: João Carlos Mazella/Sintepe)
A onda de privatizações de escolas é outro assunto urgente, de acordo com a representante do CNTE. “Alguns lugares estão conseguindo privatizar a nossa educação pública, a gestão das nossas escolas. E nós precisamos mais do que nunca fortalecer a gestão democrática, então é muito importante fortalecer esse debate, do que significa ter uma gestão democrática nas nossas escolas”, diz.
Mobilizações pelo país
Uma das maiores adesões à paralisação ocorreu no estado de Pernambuco, com 900 escolas estaduais paradas – o equivalente a 90% da rede de ensino. Desse total, 67,2% fecharam totalmente, 27,2% fecharam parcialmente e 5,6% realizaram atividades alusivas ao dia. Este número representa cerca de 90% da rede, composta por 1.051 escolas. Organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), essa foi uma das maiores paralisações dos últimos anos.
Nesta quinta-feira (24), o sindicato realizará uma assembleia geral onde debaterá com a categoria a contraproposta do governo à pauta de reivindicações entregue neste ano.
Em Fortaleza (CE), os estudantes participaram ativamente das manifestações, entregando cartas ao prefeito Evandro Leitão (PT), com relatos sobre as condições precárias das escolas. A mobilização na capital cearense teve início na terça-feira (23), reunindo educadores em um ato que cobrou do prefeito mais respeito e compromisso com o ensino.

Estudantes escreveram cartas sobre a precariedade das escolas. (Foto: Divulgação/Sindiute)
No Piauí, além da paralisação, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica Pública do Piauí (Sinte-PI) realiza uma série de atividades centradas no lema “Escola pública não é negócio. É direito!”. A programação denuncia os processos de privatização do ensino, a retirada de direitos e a precarização das condições de trabalho dos (as) profissionais da educação.
Na avaliação do CNTE, o movimento foi exitoso. “A adesão foi muito significativa, muito mesmo, com grandes mobilizações, com assembleias, com marchas, enfim, atividades de acordo com a realidade de cada município, cada categoria”, afirma Corrêa.
De acordo com informações publicadas no site do CNTE, os sindicatos e profissionais da educação realizaram atos também nos estados do Maranhão, Paraíba, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Tocantins.
“Temos categoria, inclusive, em greve, como no caso de São Paulo, que nem todos fizeram a assembleia, mas fizeram uma mobilização que pudesse atender aquela demanda local”, diz Corrêa. Os professores da rede municipal de ensino da capital paulista estão em greve desde o dia 15 de abril. Eles se opõem as privatizações e reivindicam reajuste salarial de 44%.
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