Após protestos realizados neste mês contra o líder religioso norte-americano Robert Ciranko, um grupo de ex-testemunhas de Jeová está reunindo documentos para ir à Justiça contra a organização que gere a comunidade religiosa no Brasil. As manifestações e denúncias do grupo se referem a casos de pedofilia entre as lideranças, discriminação com ex-membros e o posicionamento da congregação quanto à transfusão de sangue.
O grupo também acusa a igreja de pressão para que não façam faculdade, humilhação pública e “indução ao suicídio”, no caso da transfusão. Os atos em protesto às normas foram realizados em Cesário Lange, no interior de São Paulo, considerada a cidade sede da religião no país.
Há relatos de que a igreja obriga fiéis a abandonar familiares e amigos que desistem da religião, submetendo-os ao ostracismo. Em 2021, esse procedimento levou a Noruega a cancelar o registro da igreja no país, o que agora é defendido pelos dissidentes que aconteça no Brasil.
Yann Rodrigues, um dos organizadores dos atos, contou ao jornal Opção que foi expulso de casa aos 15 anos, quando deixou a religião, e lidera, desde 2024, o Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová. A ação que o grupo pretende ajuizar deve solicitar indenização por danos morais.
Testemunhas de Jeová
Atualmente, há a exigência de ao menos duas testemunhas para que casos de assédio e pedofilia sejam julgados por membros da igreja. Segundo o grupo de ex-fiéis, isso deixou inúmeros abusadores impunes.
Quando fazem algo considerado errado, testemunhas de Jeová podem ser “desassociadas”, nome utilizado para expulsão. A igreja orienta, então, que familiares e amigos cortem vínculos com a pessoa expulsa. Para os que entraram na igreja ainda crianças, a regra pode significar o fim de quase todos os vínculos.
A igreja também proíbe o apoio a partidos políticos e que os fiéis namorem com quem quiser. O estudo universitário é desincentivado. No site da organização no Brasil, lê-se que “o ensino superior pode expor a pessoa a perigos no sentido moral e espiritual”.
Na denúncia, os fiéis também falam em “indução ao suicídio”, com a proibição de que fiéis façam transfusão de sangue. Recentemente, o STF determinou que a recusa à transfusão de sangue é um direito das Testemunhas de Jeová e que o Estado é obrigado a oferecer tratamentos alternativos.
As testemunhas de Jeová acreditam no Armagedom, a batalha final entre Deus e os governos humanos, onde apenas seus servos sobreviveriam à luta.
Líder religioso
Em meio aos protestos, o líder do movimento nos Estados Unidos, Robert Ciranko, veio ao Brasil. A igreja enfrenta uma queda do número de fieis no país.

Líder do movimento nos Estados Unidos, Robert Ciranko.
Em resposta ao site “UOL”, a congregação disse que as denúncias de pedofilia não são acobertadas; que “a educação bíblica é mais importante que um escolar”; que “os adeptos devem limitar o contato com a pessoa que for removida da congregação”; e que a recusa à transfusão de sangue é “instrução bíblica”.
Em nota, a religião afirmou que respeita opiniões divergentes e esclarece que suas crenças estão disponíveis no site oficial. A nota também esclarece sua recusa a transfusões de sangue por motivos religiosos, ressaltando que essa escolha é respaldada pelo STF.
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