Por Victoria Azevedo
(Folhapress) — A bancada do PT na Câmara dos Deputados não deverá declarar apoio a nenhum candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Casa neste momento — a tendência hoje é que nenhum anúncio seja feito antes do segundo turno das eleições municipais.
A decisão frustra as expectativas do presidente da Casa, que tem pressa para resolver a disputa e vinha declarando nos bastidores esperar um desfecho para o tema.
A bancada se reuniu na tarde desta terça-feira (15) e ainda não tem uma posição unânime sobre qual candidato irá apoiar. De acordo com relatos de participantes da reunião, de um lado há deputados que defendem uma escolha e anúncio já neste momento. De outro, parlamentares pedem que nenhuma decisão seja tomada de forma açodada.
Apesar disso, há uma avaliação entre alguns petistas de que é preciso seguir um caminho da convergência, para evitar atritos internos na base de apoio ao governo federal na Câmara e um enfrentamento a Lira.
O PT é considerado o “fiel da balança” na eleição da Mesa Diretora, com os três candidatos no páreo brigando para atrair o apoio da legenda de Lula.
Hoje, estão na disputa os líderes Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA) -os dois últimos fecharam aliança na disputa. Os partidos dos três integram a base do petista e têm representantes na Esplanada.
O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), disse após a reunião que “possivelmente” a decisão do partido será tomada só após o fim das eleições municipais, mas evitou definir um prazo.
“Possivelmente depois do segundo turno. Nós não vamos estabelecer prazo, porque aqui o prazo é o dia da eleição. Agora, a conveniência política é que vai dizer o momento adequado e o processo de construção da bancada.”
Em outro momento, ele afirmou que a decisão será quando a bancada tiver amadurecido suficientemente o tema. “Será no momento adequado. Nem cedo nem tarde.”
Odair Cunha também disse que o partido está discutindo qual tese irá seguir: a permanência no “blocão” formado para reeleger Lira em 2023 (com todos os partidos, exceto Novo e PSOL) ou se a sigla irá “produzir um novo bloco” na Casa.
“Nessa tese de permanência, nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é o Hugo Motta. Nós estamos em um processo de consultas, iniciamos hoje esse debate aqui na Casa e vamos aprofundar. Temos tempo, o tempo está a nosso favor”, disse.
“A nossa percepção geral é que a maioria da bancada tende pela candidatura da convergência. Nós não queremos acirrar um processo de disputa aqui na Casa. Uma disputa acirrada não é boa para os interesses do PT nem aos interesses do governo”, afirmou.
Lira diz que PT se comprometeu a apoiar quem ele indicasse
Uma nova reunião da bancada está prevista para ocorrer no dia 29 — a executiva do partido terá uma no dia 28. Além disso o líder do partido deverá procurar os três candidatos para organizar encontros com os deputados petistas.
De acordo com relatos, há uma tendência de que a federação da qual o PT faz parte, com PV e PC do B, tenha um posicionamento único na disputa pela Câmara. Juntos, os partidos somam 80 deputados.
Nos bastidores, Lira afirma desde o início do ano que o PT se comprometeu a apoiar quem ele indicasse para sua sucessão. Até agora, no entanto, não houve a decisão, o que tem contribuído para os sucessivos atrasos nos prazos do presidente da Câmara para anunciar publicamente seu candidato.
Como a Folha mostrou, em setembro, Lula estimulou que Elmar se mantivesse na disputa, o que foi entendido por lideranças do centrão como uma estratégia do presidente da República para manter a eleição embolada e, assim, ampliar sua influência no desfecho.
Por outro lado, há pressa de Lira. Aliados dele reconhecem que, a cada dia que se passa, ele perde poder de influência entre os colegas. O próprio deputado pediu a Lula um gesto de apoio ao nome de Hugo Motta.
Mais cedo nesta terça, a executiva da bancada (grupo menor de deputados da legenda) petista se reuniu num primeiro encontro. Nela, parlamentares também defenderam evitar atritos entre os partidos que integram a base de Lula. Há uma avaliação de que brigas internas podem ser prejudiciais para a governabilidade.
Dos nomes colocados hoje, Motta é favorito na disputa. Ele é considerado o nome da convergência por parlamentares por ter o apoio de Lira e a sinalização de apoio de sete partidos, entre eles o PT e o PL, ainda que sem posicionamentos oficiais das legendas ou do próprio presidente da Câmara.
Ele foi alçado à disputa após uma reviravolta, com a desistência do presidente de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP). Antes, Elmar era considerado o favorito para ter a chancela de Lira, já que os dois mantêm relação estreita de amizade.
Com as mudanças, Elmar rompeu com Lira e se aliou a Brito, considerado o nome mais governista entre os três. A ideia deles é fazer um bloco aliado ao Executivo, sem a participação do PL de Jair Bolsonaro, para garantir governabilidade nos últimos dois anos do mandato do petista.
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