O “Centrão”, termo recorrente e controverso no cenário político brasileiro, desafia os limites de uma definição formal, ao mesmo tempo, em que ocupa uma posição altamente influente na interação entre os poderes Executivo e Legislativo. Longe de ser um grupo político estático, o Centrão representa um bloco cujas articulações permeiam as dinâmicas de poder e redistribuição de recursos, configurando uma força intermediária capaz de moldar o andamento das pautas políticas.
A gênese do Centrão remonta à Assembleia Nacional Constituinte de 1987–88, que surgiu como uma resposta pragmática de parlamentares para enfrentar a Comissão de Sistematização, defendendo pautas específicas, como a manutenção do presidencialismo e a definição dos mandatos. Embora os integrantes e partidos do Centrão tenham variado ao longo das décadas, seu modus operandi permanece enraizado em estratégias de negociação com o Executivo, trocando apoio político por uma influência sobre recursos e cargos públicos.
Hoje, o Centrão opera com a mesma cartilha articuladora de poder desenvolvida na década de 1980, adaptando-se conforme novos partidos aderem às práticas de barganha política que o bloco institucionalizou. No entanto, o impacto e o alcance dessa articulação sobre a política brasileira permanecem temas centrais de debate.
Quais partidos fazem parte do centrão?
O Centrão, como bloco político informal e heterogêneo, destaca-se como uma força de negociação pragmática e adaptável na política brasileira contemporânea. Definir com precisão quais partidos compõem esse bloco, no entanto, revela-se um exercício desafiador, dada sua fluidez. Com base em perspectivas da literatura política e na atuação recente, identificam-se os partidos Avante, PP, Republicanos, PL, PRD, MDB, União Brasil, Podemos, PSD, Cidadania e Solidariedade como integrantes do Centrão atual. Historicamente, PP e PL ocuparam posições centrais. Esse conjunto é variado em ideologias, mas tem um objetivo comum: a ampliação da sua influência política.
A atuação do Centrão transcende a lealdade ideológica, adotando uma abordagem flexível que lhe permite negociar com governos de diferentes espectros políticos em troca de apoio para projetos prioritários ou posições-chave. Essa atuação reforça o Centrão como uma coalizão variável e adaptável, caracterizada por sua flexibilidade pragmática, que visa à maximização de sua influência.
No cenário político atual, o Centrão tem buscado protagonismo em postos de comando nacionais, elevando sua influência para além dos limites do Congresso. A presidência da Câmara dos Deputados e cargos na Mesa Diretora tornaram-se alvos prioritários, assim como posições estratégicas no Executivo, que possibilitam ao bloco ampliar seu alcance e consolidar seu papel como ator de peso nas dinâmicas do poder.
Desafios e limitações do Centrão
A influência do Centrão nas políticas públicas brasileiras reflete um jogo político de alta complexidade. Embora o bloco possa fornecer uma base de apoio considerável para o Executivo, esse suporte é condicionado a interesses pragmáticos. A relação entre o Centrão e o governo é caracterizada por uma negociação constante, onde a estabilidade política é “alugada” em troca de cargos, emendas parlamentares e outros recursos. Essa estabilidade, embora temporariamente vantajosa para a aprovação de projetos no Parlamento, é volátil. Quando as demandas do Centrão deixam de ser atendidas, o bloco pode retirar seu apoio, expondo a vulnerabilidade do governo.
Além da volatilidade intrínseca de sua atuação, o Centrão enfrenta dificuldades de coesão interna. Como visto, o bloco é composto por uma diversidade de partidos, cujas ideologias e objetivos frequentemente divergem, comprometendo a construção de uma agenda comum. A heterogeneidade dos interesses representados dificulta articular ações unificadas, limitando a eficiência do grupo ao buscar objetivos coletivos. Essa falta de unidade enfraquece o poder do Centrão, principalmente em temas de alta relevância para o país. Contudo, a criação de novos instrumentos, como as emendas parlamentares de relator e os “Pix” orçamentários, vem dando mais musculatura e aumentando a capacidade de atuação do bloco, que passa a dispor de ferramentas para redistribuir recursos com maior autonomia, mantendo sua influência mesmo em meio à fragmentação interna.
A atuação pragmática do Centrão ao longo dos anos resultou em uma imagem pública negativa. O bloco é amplamente associado a práticas fisiológicas e clientelistas, sendo percebido pela opinião pública como um ator mais interessado em benefícios próprios do que no avanço de políticas públicas. Essa imagem compromete seu apelo eleitoral. Embora o Centrão continue exercendo influência no Congresso, essa percepção negativa representa um desafio para a sua capacidade de atrair novas lideranças políticas.
O Centrão carece ainda de uma liderança carismática e elegível capaz de representar e unificar seus interesses. A ausência de uma figura central impede o bloco de consolidar uma imagem nacional coesa e direcionada. Diferente de partidos com líderes fortes, que conseguem engajar suas bases em torno de um propósito específico, o Centrão opera sem uma liderança que sintetize os interesses variados de seus integrantes e projete uma direção clara para o bloco.
O controle do orçamento é outro ponto importante para o Centrão, lembremos que os relatores da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, respectivamente os senadores Confúcio Moura (MDB/RO) e Angelo Coronel (PSD/BA), pertencem a partidos do bloco. Coincidência? Parece que não, pois o Centrão sabe que o domínio sobre o orçamento federal e sobre emendas parlamentares o coloca em uma posição privilegiada no jogo político brasileiro.
Embora uma formalização do bloco fosse um caminho teórico para institucionalizar as suas ações, a dispersão de objetivos e a ausência de uma liderança coesa tornam essa possibilidade pouco provável no curto prazo. Essa formalização, por meio de um conjunto de fusões partidárias, implicaria assumir compromissos públicos e programáticos, algo que parece colidir com a estrutura pragmática e fragmentada que caracteriza o Centrão até aqui.
O que vem por aí?
As eleições de 2024 garantiram ao bloco o comando de um número significativo de prefeituras, o que fortaleceu ainda mais suas bases de poder local. Esse domínio municipal agora se soma à sua influência no Congresso, onde o Centrão continua a ser decisivo na definição do orçamento, com os relatórios nas mãos do MDB e PSD. Esse controle sobre os recursos orçamentários amplia a capacidade do bloco de direcionar verbas para atender a interesses específicos, consolidando seu papel como intermediário nas negociações políticas.
- Turbinado pelo resultado eleitoral e confirmado no controle do orçamento, qual será o caminho do centrão?
Independentemente da resposta, sua presença no jogo político brasileiro parece garantida, seja qual for o presidente da República eleito em 2026.
Sim, o Centrão estará lá mais uma vez.
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