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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Rachadinha: em áudio, Bolsonaro e Ramagem discutem uso da Abin para proteger Flávio

General Heleno, ex-diretor do GSI, também participou do encontro
11/07/2024 | 13h25

Por Karla Gamba, Igor Mello e Juliana Dal Piva

Ex-diretor da Abin e agora deputado federal, Alexandre Ramagem, gravou Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional – GSI) durante uma reunião em que foram discutidas estratégias para anular as investigações sobre a existência de ‘rachadinha’ no gabinete de Flávio Bolsonaro. A gravação está em um áudio de 1 hora e 8 minutos encontrado pela Polícia Federal (PF). A reunião ocorreu em 25 de agosto de 2020 e contou também com a participação de uma advogada de Flávio.

No encontro, foram discutidas as supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração do Relatório de Inteligência Fiscal que deu causa à investigação. No áudio, segundo a PF, Ramagem sugere a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita e até a retirada de alguns deles de seus cargos.

Proposta de Ramagem foi executada

A estratégia proposta por Alexandre Ramagem no áudio foi executada e as ações acabaram se concretizando. Para a Polícia Federal, isso corrobora a existência de uma estrutura paralela dentro da Abin, que atuava em defesa dos interesses políticos dos envolvidos, sobretudo da família de Jair Bolsonaro.

De acordo com as investigações, o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, ambos integrantes da Abin Paralela, fizeram diligências para “achar podres” contra os servidores da Receita Federal envolvidos na elaboração do relatório contra Flávio Bolsonaro.

A PF afirma que as informações colhidas clandestinamente pelos subordinados de Ramagem foi determinante para a abertura de uma sindicância contra os auditores fiscais.

Ramagem negou interferência em depoimento

Ouvido como testemunha no inquérito, Ramagem descartou qualquer possibilidade de Bormevet ter executado ações clandestinas para ajudar na defesa de Flávio Bolsonaro. Ele afirma que seu subordinado sofreu “imputação falsa”.

“Que tenho ciência de que o servidor Marcelo Bormevet não conhece pessoalmente nem tem contato com o Senador Flavio Bolsonaro, nem tampouco com as advogadas. Que não há possibilidade do servidor Marcelo Bormevet ter elaborado qualquer documento para o Senador Flavio Bolsonaro ou para as advogadas. Que inclusive as suas atribuições são relacionadas a coordenação de pesquisas para nomeações e em apoio à produção de conhecimentos para os setores da ABIN, quando demandado”, consta no termo de depoimento do ex-diretor da Abin.

Flávio diz que não tinha relação com Abin

Em uma postagem feita numa rede social na tarde desta quinta (11), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que não possuía nenhuma relação com a Abin e que sua defesa atacava “questões processuais”:

“Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Delgado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro”.

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