“O nosso evento não é uma simples conferência, mas uma visão. Temos um sonho: chama-se remigração. Por uma Europa que dentro de dez anos será só de europeus, sem imigrantes”.
A fala do português Afonso Gonçalves, fundador do movimento “Reconquista”, um grupo ultranacionalista, supremacista e nacionalista branco português, fundado em junho de 2023, aconteceu durante o primeiro “Remigration Summit”, cúpula que reuniu movimentos identitários, extremistas, neofascistas e neonazistas em uma cidade próxima a Milão no último dia 17.
Cerca de 400 ativistas de extrema direita de toda a Europa se reuniram em Gallarate, Itália, para uma cúpula em defesa da “remigração” de estrangeiros, incluindo descendentes de imigrantes, e contou com palestrantes que criticavam o multiculturalismo e alertavam para a “extinção” do Ocidente.
Além de Afonso Gonçalves, que tem vídeos xenófobos no Instagram em que mostra pessoas árabes e não brancas e pergunta se é “esse Portugal que os portugueses querem”, havia a alemã Lena Kotre, da Alternative für Deutschland (AfD), e a comentarista holandesa Eva Vlaardingerbroek, que teria falado sobre “estupros e genocídios” cometidos por estrangeiros e enfatizado que, sem a remigração, “nós, europeus étnicos, nos tornaremos uma minoria”.
Também falaram em vídeo dois integrantes da Liga, partido italiano de extrema-direita conhecido por seus discursos anti-imigração, anti-Islã e xenófobos: Roberto Vannacci e Silvia Sardone.
Segundo reportagem do InfoMigrants, “Reembolsos para imigrantes” para fazê-los retornar aos seus países de origem, insultos contra a “dominação cultural” e uma ameaça alarmante de “extinção” foram alguns dos temas discutidos pelos participantes.
O nacionalista flamengo Dries Van Langenhove — que foi condenado a um ano de prisão por negar o Holocausto — citou o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e pediu aos participantes que entoassem o slogan “Salve nossa nação, remigração”.
Dos Estados Unidos, Jacky Eubanks, ex-candidato apoiado por Trump para a legislatura de Michigan, disse: “As políticas americanas não devem consistir apenas em deportações em massa, mas incluir uma moratória completa sobre toda a imigração até a assimilação”.
Ainda segundo a reportagem, o francês Jean-Yves Le Gallou, ex-membro da Frente Nacional que agora integra o partido de extrema direita Reconquête, falou sobre uma remigração “indispensável” a ser realizada gradualmente, incluindo imigrantes de segunda e terceira geração que “não são assimilados e são hostis”. Nesse caso, “eles devem ser expulsos e privados da cidadania”.
A mídia alemã também noticiou que oito ativistas de grupo identitário (movimento de extrema-direita que se popularizou na Europa pós-II Guerra Mundial afirmando o direito dos europeus e povos de origem europeia a uma cultura e territórios reivindicados como pertencendo exclusivamente a eles) foram impedidos por policiais do aeroporto de viajar para a conferência, porque “sua participação prejudicaria a reputação da República Federal da Alemanha”.
Eles tentaram reverter a decisão na justiça mas o tribunal declarou que “Em particular, a reputação internacional e a credibilidade da República Federal da Alemanha poderiam sofrer danos consideráveis se fosse criada a impressão de que nenhuma tentativa estava sendo feita para impedir o neonazismo, especialmente através das fronteiras.”
No entanto, os integrantes não apenas conseguiram chegar à conferência como o fato foi amplamente divulgado pela coordenação do evento nas redes sociais. Eles agora podem enfrentar pena de um ano de prisão.
O termo “remigração” tem se popularizado entre a extrema-direita europeia e norte-americana. Trata-se de um eufemismo para se referir à deportação em massa e expulsão de migrantes e seus descendentes. Ideia que tem crescido assustadoramente em toda a Europa e impulsionado a popularidade e a eleição de líderes de extrema-direita no continente.
Com informações de: neues deutschland, InfoMigrants e Apollo News
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