Por Amanda miranda — Newsletter Passando a Limpo
Sem qualquer projeto, obra ou legado de gestão em benefício aos cidadãos catarinenses durante seu mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez um rápido tour pelo estado no fim de semana para apoiar candidatos do PL e seus aliados. Sempre acompanhado do governador, Jorginho Mello, licenciado para se dedicar à campanha, reuniu apoiadores que parecem cada vez mais confusos sobre suas entregas.
“Não sei responder”, “agora cê me pegou”, “eu não acompanho muito isso”, “foi a ajuda ao pobre, o Bolsa Família, a possibilidade de comprar a sua comida, o seu gás, o seu aluguel”. Essas foram algumas das respostas coletadas pelas comunicadoras Jade Beatriz e Luiza Coelho quando confrontaram parte da militância que aguardava Bolsonaro em Criciúma, em ato de apoio à candidatura do deputado federal Ricardo Guidi. O material, publicado em vídeo, revela que há um vácuo de informação sobre a gestão do ex-presidente no estado.
Esse vácuo é confirmado em rápida pesquisa na internet. Corte de orçamento para obras em rodovias, divulgação de obras pagas pelo então governo estadual como se fossem do seu mandato e vagos registros de “entrega de vacinas” e assinatura de “acordos de cooperação técnica e contratos de cessão imobiliária” indicam um apagão de investimentos federais no Estado sob o ex-presidente.
O apagão deu um nó até em Jorginho Mello — que cobra do governo Lula um investimento que seu antecessor, Carlos Moisés, fez nas rodovias federais do Estado negligenciadas por Jair Bolsonaro. “As pessoas gostam do Bolsonaro pelo o que ele representa, pelas bandeiras que defende, e não pelo o que ele fez”, revelou, em ato falho, o deputado estadual Jesse Lopes em comentário no vídeo viral.
O deputado é natural de Criciúma. No roteiro do tour de Jair Bolsonaro pelo estado no último fim de semana, o município recebeu R$ 315 milhões em repasses federais totais no último ano de mandato do ex-presidente. Em 2023, primeiro ano da gestão Lula, subiu para R$ 360 milhões. Já para este ano, o governo federal anunciou para a cidade acréscimos em obras de macrodrenagem e prolongamento do canal auxiliar do Rio Criciúma, com investimentos de cerca de R$ 20,6 milhões.
Os benefícios pagos aos cidadãos da cidade também oscilaram do último ano de Bolsonaro com relação ao primeiro ano de Lula. O ex-presidente pagou R$ 53,81 milhões em benefícios, contra mais de R$ 80 milhões de Lula.
Comparações de gestão
Segundo o Portal da Transparência, no primeiro ano do governo Lula, mais de R$ 16,6 bilhões foram repassados ao estado entre os valores constitucionais e royalties e as transferências legais, voluntárias e específicas. No ano anterior, com Bolsonaro regendo a máquina pública em período de eleições, foram cerca de R$ 15 bilhões. Quando se leva em conta somente recursos repassados como investimentos, em 2023, foram mais de R$ 665 milhões, contra R$ 420 milhões do ex-presidente.
Os investimentos se referem a valores destinados a planejamento e execução de obras, realização de programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamento e material permanente e constituição ou aumento de capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.
Na conta de 2024 ainda entram valores do Programa de Aceleração de Crescimento — Novo PAC e Novo PAC Seleções, que prevê centenas de obras e equipamentos no Estado. A campanha “Fé no Brasil” indica que, no estado, as ações têm como prioridade as áreas de infraestrutura, saúde, educação e habitação. O Novo PAC Seleções chega a 151 municípios com 370 obras de prevenção a desastres, creches e unidades básicas de saúde. O estado vai ganhar mais três campi de institutos federais e 4,2 mil vagas de ensino técnico.
Carnaval fora de época
Na passagem pelo estado, Bolsonaro passou pelo litoral norte, onde seu filho Jair Renan Bolsonaro aproveita o sobrenome familiar para fazer campanha à Câmara dos Vereadores de Balneário Camboriú, e pela região Sul. Criciúma, pólo regional, tem uma disputa acirrada entre Guidi, patrocinada pelo governador Jorginho Mello, e o candidato do atual prefeito, que está preso, Clésio Salvaro.
Sem obras para apresentar, a turnê de Bolsonaro contou com pirotecnias como carro de som e recepção em aeroporto. Imagens registradas pela oposição mostram o esvaziamento de eventos em cidades como Balneário Camboriú.
Em Navegantes, onde ele desembarcou, o apelo do “mito” também foi restrito. Em Tubarão, chegou a se falar em grande “público” a partir de uma foto fechada, mas é possível observar, em plano aberto, que havia pouca gente em torno do líder da extrema direita. Ele, que já discursou em carros de som em grandes avenidas, foi recebido num estacionamento de posto de gasolina.
O carnaval fora de época, cujos custos não são contabilizados em portais da transparência, também rendeu momentos de mal estar, com a deputada estadual bolsonarista Ana Caroline Campagnolo chamando o ex-presidente de “coitado” em seu Instagram por estar apoiando um candidato que ela não considera à altura.
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