Por Adele Robichez, José Eduardo Bernardes e Larissa Bohrer – Brasil de Fato
Moradora de Los Angeles, na Califórnia, a editora de vídeo brasileira Ananda Ferrari Ossanai acompanha de perto os protestos, que denunciam prisões arbitrárias e condições desumanas em centros de detenção. A cidade se tornou palco de manifestações contra a repressão violenta da polícia migratória dos Estados Unidos, o ICE (Immigration and Customs Enforcement).
Em entrevista ao “Brasil de Fato”, a brasileira afirma que agentes “sem mandados policiais, sem identificação, estão sequestrando trabalhadores, sequestrando pessoas, […] têm entrado em lugares de trabalho, supermercados, formaturas escolares procurado imigrantes, prendido pessoas sem critério”.
Segundo ela, há denúncias de que os detidos estão sendo levados a centros sem acesso a água, comida, medicamentos ou aquecimento. “Nós estamos falando de pessoas trabalhadoras, nossos vizinhos, nossos amigos, nossos familiares. E essas pessoas estão sendo levadas, essas pessoas estão sendo atacadas”, conta a brasileira.
A situação fez com que protestos tomassem as ruas da cidade, levando a uma forte repressão por parte do governo federal. De acordo com a brasileira, a violência tem partido das forças de segurança. “As manifestações têm sido completamente pacíficas até a chegada dos policiais. A polícia e as forças armadas mandadas pelo [presidente dos EUA, Donald] Trump têm sido violentas, mandando balas de borracha e sinalizadores”, relata a brasileira. “É uma violência incrível, é uma coisa horrorosa”, acrescenta.
Na semana passada, Trump enviou a Guarda Nacional para Los Angeles sem consultar o governador da Califórnia, Gavin Newsom. Ossanai vê a ação como parte de um projeto político mais amplo. “É uma questão do capitalismo e do imperialismo americano contra as populações imigrantes”, sugere.

Situação em Los Angeles é complicada, prefeita decretou toque de recolher (Foto: Ronaldo Schemidt / AFP)
Los Angeles, centro de resistência, diz a brasileira
Com cerca de 3,5 milhões de imigrantes, Los Angeles já é, segundo Ananda Ossanai, “um centro de resistência”, com grandes mobilizações espalhadas pela cidade, contrárias ao endurecimento das deportações e violências.
A rotina, de acordo com ela, tem sido marcada por medo e resistência. “Ninguém estava esperando algo tão grande e tão rápido. A população imigrante está com medo, mas segue a vida porque não vamos deixar eles nos baterem assim”, declara.
A onda de manifestações já começa a se espalhar para outras cidades dos EUA. “Nós vimos hoje em diversas cidades dos Estados Unidos, inclusive Nova York, Washington D.C. […] E eu acho que se eles continuarem a fazer esse tipo de ataque às populações em outras cidades fora de Los Angeles, essas cidades também vão levar às ruas para protestar como estamos fazendo”, prevê a editora.
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