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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Ramagem procurou servidora para saber como evitar demissões de agentes investigados

Em depoimento à PF, ela relatou a busca do ex-chefe da Abin por instrumentos legais para barrar o processo administrativo
18/07/2024 | 14h56

Por Juliana Dal Piva e Karla Gamba

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) procurou uma servidora da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em busca de informações sobre como poderia evitar a demissão de dois agentes investigados por espionagem. O relato consta no depoimento que a servidora deu à Polícia Federal (PF). Posteriormente, Ramagem evitou a demissão pedindo novas diligências após a própria corregedoria da agência recomendar a dispensa formal de dois agentes.

Em junho de 2019, um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) foi aberto para apurar a conduta de Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Izycki que participaram de um pregão do Exército, na condição de sócios de uma empresa — prática vetada a servidores públicos. Dois anos depois, a corregedoria da Abin concluiu que os dois eram culpados e deveriam ser demitidos. O relatório final da investigação, que deveria ser encaminhado ao então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foi barrado por Ramagem, à época chefe da Agência.

A servidora relatou à PF que Ramagem a procurou questionando sobre o que poderia ser feito para que o processo não fosse encaminhado ao ministro e consequentemente ocorresse a demissão. Segundo ela, a solução prevista na lei que estabeleceu o regime jurídico dos servidores públicos era converter o processo administrativo em novas diligências. Assim fez Ramagem.

A intervenção do agora deputado atrasou em dois anos a demissão de Colli e Izycki. Eles só foram demitidos após terem sido alvo da primeira fase da Operação Última Milha em outubro de 2023.

A depoente disse à PF que não sabia dizer que a motivação de Ramagem para evitar as demissões, mas reafirmou algo que já estava sob investigação: que os dois servidores estariam ameaçando a direção da Abin com a possibilidade de tornar público o uso ilegal do sistema First Mile para monitorar ilegalmente opositores da família do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esta colunista revelou essas pressões e o papel de Ramagem na tentativa de evitar a demissão em reportagem publicada pelo portal UOL em outubro do ano passado.

Para a PF, o episódio é mais uma comprovação das ações que foram empenhadas para impedir a publicização do sistema First Mile, o que, consequentemente, revelaria as ações de desvio institucional.

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