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Seu amigo progressista também pode ser um agressor de mulheres

Se o bolsonarismo se alimenta do machismo para sobreviver, a recíproca não é verdadeira: o machismo tem vida própria em todos os espectros políticos
16/11/2023 | 06h00

Por André Graziano*

Nestes dias em que parte do noticiário está tomada pela denúncia de violência doméstica contra Ana Hickmann, a bolha de esquerda nas redes sociais tem resgatado declarações em que Alexandre Correa, seu marido, apoia a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição e reproduz falas misóginas contra mulheres progressistas.

Sim, Alexandre é um bolsonarista típico. E é inegável que uma dos forças que alimentam o bolsonarismo é o machismo. Isso está claro desde a época em que Bolsonaro fazia figuração em programas de auditório de baixo orçamento ou quando despejava falas grotestas contra colegas deputadas. Ficou ainda mais evidente em episódios em que agrediu verbalmente jornalistas mulheres, já na Presidência. Sem contar, claro, a fala machista contra a própria filha, disfarçada de brincadeira, em que se gabou de ter quatro filhos homens, mas lamentou por ter dado “uma fraquejada e veio uma mulher”.

Mas, se o bolsonarismo depende do machismo para sobreviver, a recíproca não é verdadeira. O machismo é uma força viva da nossa sociedade, que ultrapassa bolhas de esquerda, de direita ou “isentonas”. Agressão a mulheres e machismo, infelizmente, não são privilégios da direita.

Qualquer homem, inclusive aquele camarada progressista, gentil, que lê Simone de Beauvoir e fala frases desconstruídas, pode ser um agressor. Agressor não tem cara nem visão política (embora haja visões políticas que o abracem). Apontar que “é óbvio” que alguém é um agressor por ser bolsonarista ajuda a blindar ainda mais os agressores que tentam se camuflar de “feministos”.

Uma pesquisa do PoderData divulgada em março de 2021 mostra que a maioria esmagadora dos homens reconhece que há machismo no Brasil: 80%. Mas apenas 8% admitem que são machistas. A conta não fecha. Está faltando autocrítica, inclusive na bolha de esquerda.

 

* André Graziano é jornalista da equipe do ICL Notícias. Tem experiência em rádio, internet e comunicação pública. Trabalhou como curador de conteúdo no Twitter, com foco em combate à desinformação.

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