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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Sobem os créditos, mas ‘Ainda estou aqui’ segue em Brasília

No dia marcado para o assassinato de Alexandre de Moraes, Bolsonaro põe "pá de cal" na comissão que investigava os mortos e desaparecidos
21/11/2024 | 07h46

“Ainda estou aqui” não acaba quando termina. Nem quando a gente limpa lágrimas e ciscos da história do canto dos olhos. Você deixa o cinema, mas segue dentro de uma polaroid esmaecida. O filme-memória tem até uma cena pós-crédito que só ficamos sabendo agora.

Interior/Dia/Esplanada dos Ministérios, Brasília. Com o voto contra de Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, o então presidente Jair Bolsonaro determina a extinção da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão responsável por investigar crimes praticados durante a Ditadura Militar.

A cena pós-crédito se passa em 15 de dezembro de 2022. Exatamente no dia marcado, no roteiro da tentativa de golpe, para o assassinato do ministro Alexandre de Moraes (STF) — duas outras mortes, a de Lula e do vice Geraldo Alckmin, aconteceriam até o Réveillon.

A ordem de Bolsonaro foi para “cimentar” definitivamente uma laje por cima das sepulturas. “Esses cadáveres não podem continuar exalando fedor no país”, disse, nesse mesmo dia, a obediente ministra Damares Alves — a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos era ligada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Nascida em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a instituição foi reforçada e ampliada em 2012, na gestão de Dilma Rousseff, com a Comissão Nacional da Verdade. Foi a CNV que desvendou e revelou o caso Rubens Paiva, um dos mais exemplares das suas investigações.

Na cena pós-crédito de “Ainda Estou Aqui”, Vera Paiva é acompanhada, no seu voto contra o fim da Comissão, por Diva Soares Santana (irmã de Dinaelza Santana, militante do PCdoB morta pela Ditadura Militar) e Ivan Marx, representante do Ministério Público Federal.

Em vão. Bolsonaro gargalhava com a sua maioria vencedora. Votaram pela “pá de cal” Marco Vinicius Pereira de Carvalho (conselheiro-presidente), Jorge Luiz Mendes de Assis (representante dos militares), Filipe Barros (deputado do PL do Paraná) e Paulo Fernando Melo da Costa (escalado no grupo pelo senador Magno Malta, do PL capixaba).

A comissão só seria recriada, no terceiro governo Lula, em 04 de julho de 2024, depois de importantes pressões políticas de parentes de mortos e desaparecidos.

“Ainda estou aqui” — dirigido por Walter Salles, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva — tem sequência nas revelações sombrias da tentativa de golpe dos militares. Está no 8 de Janeiro, segue história adentro, nas palavras de Vera Paiva no episódio do “Em Detalhes”, com Gabriela Varella ­— videocast do ICL Notícias.

Quando a luz apaga, quando a luz acende, “Ainda estou aqui” segue obra aberta para a lágrima coletiva e para o acréscimo particularíssimo de cenas extras de cada um. No claro-escuro, vemos ainda os monstros. Eunice lembra sim que um novo mundo tarda a nascer.

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