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Por Heloisa Villela

Faz um ano que deixei Nova Iorque e voltei a viver no Brasil depois de 35 anos nos EUA. Se alguém me perguntasse, em abril do ano passado, se eu veria uma grande movimentação nas universidades do país eu diria: sem chance!

E qual não tem sido a minha surpresa com as imagens que estão se multiplicando no meu celular. Um número cada vez maior de campus universitários são ocupados pelo movimento de solidariedade aos palestinos.

A vida de Joe Biden só se complica. Ele continua aprovando no Congresso novos repasses milionários de recursos para alimentar a guerra na Ucrânia e o genocídio na Palestina.

Digo Palestina de propósito, e não Gaza. A agressão diária não se limita à faixa de terra à beira-mar, vizinha do Egito. A Cisjordânia também tem enfrentado uma onda de violência cada vez maior. Não são apenas as operações de destruição da infraestrutura, das ruas e das casas dos campos de refugiados. É bem mais do que isso.

As prisões arbitrárias se multiplicam. Os colonos judeus têm a proteção das forças armadas para atear fogo nos carros e casas dos palestinos. As imagens são cada vez mais chocantes.

 

Mas a onda de solidariedade que vem dos universitários americanos cria uma possibilidade. Uma chance de se ter alguma esperança.

Conversei com uma americana que estudou no Brasil e hoje faz doutorado na Universidade do Texas em Austin, EUA. Ela estava na marcha da quarta-feira que percorria o campus tranquilamente enquanto os alunos dividiam pedaços de pizza.

Tudo tranquilo até que chegaram os policiais fortemente armados e deram dois minutos para todos desaparecerem. Vickie, que pediu para que eu não usasse o sobrenome dela, afastou-se. Mas muitos permaneceram e a cena que se seguiu correu o mundo.

Um policial agarra um cinegrafista por trás. Joga o profissional com câmera e tudo no chão, com toda a força.

Se queriam calar os estudantes, o tiro saiu pela culatra. Agora, os professores se juntaram aos alunos e exigem a demissão da reitora da universidade. Os organizadores das ações de solidariedade em Austin já garantiram que voltarão com tudo. Usando outras estratégias. Vão rezar juntos, ressaltar os pedidos de paz de sempre, o fim da violência e das mortes.

Apesar da violência policial, a resistência dos estudantes deu um novo ânimo a uma amiga de Vickie. Uma palestina que estuda no Texas. “Hoje eu acordei com a esperança de que a Palestina vai ser livre”, disse ela à Vickie.

Berklee College of Music, Boston, EUA

Berklee College of Music, Boston, EUA

Em Nova Iorque, uma brasileira que pediu para não ser identificada, porque dá aula na New York University, contou-me que está participando dos protestos da maneira mais discreta possível. Fica meio de longe, em um lugar menos visível, porque sabe que pode perder o emprego por dar apoio ao movimento.

A situação não é fácil lá na terra da democracia. Mas ainda assim, disse ela, não dá para ficar de fora.

 

Na última quinta-feira, 25 de abril, mais um campus universitário entrou na lista dos espaços ocupados em nome da solidariedade e do fim do genocídio. Estudantes conseguiram invadir um gramado cercado na universidade de Harvard. Segue forte a indignação e o desejo profundo de ver justiça para os palestinos.

Eu olho tudo isso e só me lembro o que me disseram todos os palestinos que conheci na Cisjordânia, quando passei cerca de 15 dias, pouco depois do começo de toda essa insanidade. Eles me disseram várias vezes: “não contamos com governos, com a ONU, com ninguém. Nossa única esperança é a solidariedade dos povos do mundo”.

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