O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) atualizou na última sexta-feira (5) o Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão — também conhecido como “Lista Suja do Trabalho Escravo”.
A relação, que agora conta com 654 pessoas físicas e jurídicas, foi substancialmente aumentada em relação à publicação anterior (que contava com 204 nomes).
Curiosamente, o maior incremento se deu em relação a empregadores (as) que submetiam trabalhadores (as) domésticos a um regime análogo à escravidão. Cultivo de café, criação de bovinos, produção de carvão e construção civil são os outros setores com maior aumento.
Alguns pontos me chamam muito a atenção, mas confirmam também tendências de estatísticas advindas de outras pesquisas e avaliações relevantes. Divido abaixo:
- O número de empregadores pessoa física que submete pessoas às condições análogas à escravidão segue sendo de #homens. Algumas mulheres empregadoras também figuram na lista (e algumas delas relacionadas à exploração sexual).
- Fazendas em todo o Brasil ainda são os principais locais em que a exploração laboral acontece. Seja por ausência de fiscalização mais robusta, por perspectivas culturais relacionadas à forma de trabalho no campo ou mesmo por um contexto que naturalmente conta com mão-de-obra em situação de vulnerabilidade socioeconômica (e #terceirizada), ainda há um grande abismo em relação ao trabalho decente nestas localidades.
- A exploração do trabalho #doméstico é uma realidade gritante no Brasil. Na semana passada eu mesma testemunhei uma situação de assédio moral em relação a uma trabalhadora doméstica e, apesar de meus esforços, não pude agir de maneira mais incisiva para a mudança.
- Abusos são cometidos diariamente por parte de empregadores de todas as classes sociais, ainda com muito machismo, muita misoginia e muito discurso de superioridade e de medos e ameaças envolvidos.
Trabalho escravo: enraizado
Os números atualizados escancaram uma realidade que tentamos evitar, que muitas vezes silenciamos e que ainda normalizamos em nossos próprios contextos sociais.
Há muito a ser feito não somente em termos de fiscalização e endurecimento das responsabilizações, não obstante a transparência na divulgação das informações por parte do Governo Federal.
A mudança cultural é urgente e estes dados nos servem como importantes balizadores para os próximos passos que o Estado, empresas e movimentos sociais precisam fazer em prol da dignidade dos(as) trabalhadores(as) no país. Que saibamos utilizá-los com sabedoria e voltados à verdadeira mudança.
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