O economista do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) André Campedelli chamou a atenção, nesta segunda-feira (6), para o fato de que o governo não deve se preocupar com “se vai fazer superávit ou déficit fiscal mais baixo” este ano, pois o Rio Grande do Sul vai precisar da mão pesada do estado em sua reconstrução. Desde a segunda-feira, 29 de abril, a tragédia no RS, atingido por fortes chuvas, deixou 75 mortos até o momento, além de dezenas de feridos, desaparecidos, desabrigados e desalojados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve ontem (5) pela segunda vez em três dias no estado, acompanhado de grande comitiva reunindo ministros de várias áreas e lideranças do Legislativo e do poder Judiciário para buscar solução conjunto à grave crise que se instalou após a tragédia.
“Eu espero que esse tema de risco fiscal e tudo mais saia um pouco da pauta porque a gente vai precisar gastar agora. Mais do que nunca, agora não tem que pensar em risco fiscal, não tem que pensar em fechar conta justamente porque a gente tem que reconstruir um estado inteiro, que é o Rio Grande do Sul”, disse Campedelli, que apresenta, ao lado da também economista Deborah Magagna, o ICL Mercado e Investimentos, programa diário sobre economia transmitido no canal do YouTube do ICL Notícias (Instituto Conhecimento Liberta).
A fala de Campedelli ocorreu no contexto do comentário dele a respeito da notícia de as contas públicas de março terem fechado com superávit primário de R$ 1,1 bilhão, segundo dados do Banco Central divulgados hoje. Em março do ano passado, houve déficit de R$ 14,2 bilhões para o período.
“Não vai ser com a mão invisível que se vai reconstruir [o Rio Grande do Sul], não vai ser só com a ajuda da iniciativa privada, não. Você vai ter que ter a mão pesada, forte e dinheiro do governo federal para você fazer essa reconstrução. Então, eu espero que se tenha permissão agora, em vez de ficar correndo atrás de um superávit ou de um déficit muito baixo, que a gente largue um pouco a mão disso porque a gente tem que salvar o Sul, e não vai acontecer nada demais com as nossas contas, a gente vai continuar vivendo”, frisou.
Ainda de acordo com o economista, ao contrário do que muitas vezes o mercado e a grande mídia tentam vender, a inflação – se ocorrer – não virá por essa via. “A inflação virá por outros caminhos. O pessoal vai falar que, se tiver esse aumento fiscal para salvar o Rio Grande do Sul, que a inflação vai vir disso – não! A inflação vai vir porque você teve uma quebra de soja, de arroz, ou seja, virá dos alimentos pela destruição climática”, frisou, referindo-se ao fato de que o estado é um grande produtor de arroz e soja, por exemplo.
Na sequência, Deborah Magagna lembrou já ter saído na grande imprensa notícias nesse sentido.
Somente três deputadas encaminharam emendas para prevenção de desastres no Rio Grande do Sul
Mais cedo, durante participação no ICL Notícias 1ª edição de hoje, a deputada federal pelo PSOL/RS, Fernanda Melchionna, lembrou que nem sabia que somente ela e as também deputadas Maria do Rosário (PT-RS) e Reginete Bispo (PT-RS) foram as únicas a encaminharem emendas para elaboração de projetos de prevenção à erosão costeira e para gestão socioambiental no RS.
Conforme mostra levantamento feito pelo ICL Notícias, as três enviaram R$ 1,7 milhão ao estado por meio de emendas. Os dados são do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento da União (Siop), sistema que registra a destinação das verbas federais.
“Eu de fato destinei recursos para a Defesa Civil porque foi uma das demandas que eu recebi do Vale do Taquari. Vamos lembrar que, em setembro do ano passado, teve uma tragédia ambiental, uma catástrofe que vitimou 75 vidas. E agora, infelizmente, chegamos a mais de 75 vidas e um número que tende a aumentar porque temos muitos desaparecidos”, disse, comentando que os recursos foram enviados a partir de uma demanda do trabalhadores e trabalhadoras, que a alertaram para a dificuldade da Defesa Civil no estado.
Governo Lula prepara “Orçamento de Guerra” para tragédia no RS
O presidente Lula uniu os três poderes no fim de semana para costurar um orçamento de guerra para a reconstrução do Rio Grande do Sul.
O governo federal já reconheceu calamidade pública em 336 dos 497 municípios gaúchos (67%) − medida que permite a destinação de recursos da União em diversas ações emergenciais, nos moldes do que foi adotado durante a pandemia de Covid-19, quando o Congresso Nacional aprovou um “Orçamento de Guerra”, viabilizando recursos fora das regras fiscais para o enfrentamento à crise sanitária.
As articulações políticas dos últimos dias caminharam na direção de criar um regime jurídico extraordinário, que diminua burocracias e permita o envio mais célere de ajuda ao estado dentro de um desenho legal que dê respaldo às ações.
“As autoridades públicas aqui precisam ver e perceber (…) a máquina pública está sufocada com essa situação e não vai conseguir dar respostas se nós não endereçarmos ações excepcionais também do ponto de vista fiscal”, disse o governador Eduardo Leite (PSDB) durante a visita do presidente Lula.
O Rio Grande do Sul hoje enfrenta a maior catástrofe climática de sua história. É um dos estados mais endividados do país e clama por medidas excepcionais para lidar com a crise. Um pedido de excepcionalização dos pagamentos da dívida junto à União já está na mesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Ontem, Lula disse que “não haverá impedimento da burocracia para que a gente recupere a grandeza deste estado”. O presidente garantiu recursos para a reconstrução de rodovias e organiza com o Congresso Nacional uma medida “totalmente extraordinária” para a liberação das verbas – fala corroborada pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que participaram da comitiva do governo.
Assista ao comentário do economista André Campedelli no ICL Mercado e Investimentos desta segunda-feira (6):
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, ICL Notícias e ICL Mercado e Investimentos
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