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Um ano depois, Israel passou de vítima a agressor. A simpatia inicial resultante do ataque terrorista de 7 de outubro passou para uma reprovação internacional quase generalizada. Ao fim de um ano, as frentes de guerra triplicaram. A cruel destruição de Gaza deixou o mundo horrorizado, e a invasão do sul do Líbano tornou o conflito regional. A máquina de guerra foi liberta com total impiedade e sem nenhum tipo de contenção. Israel parece não reconhecer limites ao poder militar. Mas Israel está a passar um mau bocado.

Primeiro ponto: a economia israelita está a sofrer. As agências de rating rebaixaram a classificação da dívida soberana. A Moody’s desceu-a em dois níveis, de A2 para Baa1, uma notação típica de nações em desenvolvimento. Mais de meio milhão de cidadãos israelitas abandonaram o país, segundo os números da Autoridade Israelita de Imigração. O turismo afundou. O comércio está em declínio. Israel está a passar um mau bocado.

Segundo ponto: na frente militar, as coisas estão cada vez piores. A estratégia de decapitação não funcionou. Aliás, nunca funcionou. Há anos que os israelitas mantêm o hábito sujo de matar os líderes inimigos sem lograr nenhum progresso. O elogio manifestado pelos jornais ocidentais à operação de eliminação física através de “pagers” e “walkie-talkies” armadilhados é absolutamente obsceno. A consequência tem sido a escalada de violência, de radicalismo e de vingança. Israel mata aqueles com quem, um dia, terá de assinar a paz.

A limpeza étnica também não funcionou. Israel parece apostado em testar uma nova estratégia de luta anti-insurgência: matar toda a gente. Se, como é típico de uma luta em território ocupado, o inimigo está escondido entre a população, a solução israelita parece ser eliminar toda a população, violando a primeira e mais importante convenção de guerra: a distinção entre combatentes e não combatentes. Mas é impossível eliminar toda a gente. Malgrado toda a destruição, ainda há palestinianos em Gaza, e no futuro continuará a haver palestinianos em Gaza. Eles não vão a lado nenhum, também porque não têm para onde ir. A estratégia de limpeza étnica ou de punição coletiva não funciona.

Finalmente, temos a estratégia da invasão terrestre, que foi executada em Gaza e agora no Líbano. Esta estratégia pode ter sucesso na conquista, mas tem sérios problemas na ocupação. Já foi tentada antes e também não resultou. Não tenho dúvidas de que também não resultará agora. Daqui a uns anos, Israel terá os mesmos vizinhos, a mesma insegurança e as mesmas ameaças. A única forma de melhorar a situação de segurança é fazer a paz, não a guerra. Há limites ao poder militar.

Terceiro ponto: Israel está mais isolado do que nunca. É claro que ainda conta com a proteção americana, que tem sido a rede de segurança para muitas das suas aventuras militares. Mas o seu apoio no mundo está a diminuir. A legitimidade moral para o combate que se seguiu ao atentado de 7 de outubro esfumou-se num instante perante as barbaridades cometidas em Gaza. Os palestinianos estão a ganhar uma simpatia que há muito não tinham. A ideia de um povo que necessita de proteção, outrora tão cara ao povo judeu, é agora a causa de muita gente que luta pelo direito do povo palestiniano a um Estado. França proibiu a venda de armas a Israel. Espanha apela ao boicote total de venda de armas. Um navio com bandeira portuguesa não encontra porto em que atracar por suspeita de transportar armas para Israel. Os ataques do exército israelita ao pessoal das Nações Unidas são obscenos e inaceitáveis. Israel está em dificuldades. Quando ouço o primeiro-ministro israelita dizer que Israel está a travar uma guerra em nome da civilização contra a barbárie, pergunto-me: de que civilização estará ele a falar? Quem será o bárbaro e quem será o civilizado? Israel está em apuros. Está em apuros na guerra, na economia e na política internacional. Um ano depois, Israel está em apuros.

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