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Ivanir dos Santos

Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Conselheiro Estratégico do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP). Autor e idealizador da série Resistência Negra, da Globoplay.

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Viva a Pequena África

Durante anos a máscara colonial silenciou histórias e memórias dos povos negros escravizados
05/05/2025 | 07h26
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“Quando rejeitamos a história única, quando percebemos que nunca existe uma história única sobre lugar nenhum, reavemos uma espécie de paraíso” (Chimamanda Ngozi Adichie)

Chimamanda Ngozi Adichie reading at 2013 Fall for the Book

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A citação acima, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, nos fala sobre a necessidade de darmos visibilidade a “outras” narrativas e experiências históricas ou, por assim dizer, as narrativas e experiências históricas não dominantes.

Durante anos a máscara colonial, construída pelo colonialismo europeu, silenciou as histórias e memórias coletivas dos povos negros escravizados e colonizados por meio de uma narrativa única, que buscou objetificar e coisificar as culturas e sociedades que, na visão do “colonizadores”, eram narrados e apresentados como o/a outro/a/e.

A possibilidade de escrever e reescrever a história dos povos negros no Brasil, alicerçada pelas interfaces das histórias das Áfricas, não é algo recente. É possível perceber, por exemplo, que o número de pesquisas e estudos sobre região da Pequena África começou a ganhar um peso principalmente nos centros de pesquisas e ensino superior.

A região do Rio de Janeiro que é conhecida como a Pequena África abrange o território da zona portuária e os bairros da Praça Onze e Estácio, que foram locais de desembarque de africanos escravizados no Brasil. Ocupada por uma população majoritariamente negra no passado e no presente, a região representa um dos mais importantes legados da cultura negra no país.

Uma narrativa buscou ser a linha de condução das trajetórias das pessoas que vivem e sobrevivem na região, instituições, organizações, agentes culturais que durante décadas foram os “guardiões” da cultura local.

Compreendendo as necessidades do fortalecimento da cultura, da educação antirracistas, do turismo e do empreendedorismo, a iniciativa Viva Pequena África, que tem como consórcio o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), Diáspora Black e o Instituto Feira Preta, busca promover o desenvolvimento sustentável e integrar a comunidade local em uma rede de colaboração.

Viva a Pequena África no Rio de Janeiro

(Imagem: reprodução)

A iniciativa, fruto das ações do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), da Ford Foundation, da Open Society Foundations, Ibirapitanga e Instituto Itaú, se propõe a atingir uma série de objetivos estratégicos, centrados na preservação cultural, no fomento ao desenvolvimento das organizações negras locais e na promoção de narrativas que impulsionam o empoderamento cultural e o conhecimento da região.

Algo que podemos chamar de “reescrita da história”, uma vez que os agentes sociais, culturais e empreendedores do território, selecionados via edital de fomento que será lançado nesta segunda-feira (5), vão ter a oportunidade de evidenciar suas ações, promoções e salvaguarda da história, da memória e do patrimônio da região da Pequena África.

Saliento, que a ação de incentivo às instituições é uma importante janela para que outras organizações, nacionais e internacionais, possam conhecer e apoiar a iniciativa Viva a Pequena África e outras ações voltadas para a valorização dos territórios e lugares de memórias no Brasil.

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