Por AFP
Yamandú Orsi, pupilo do ex-presidente José “Pepe” Mujica, venceu o segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai no domingo (24), o que marca o retorno da esquerda ao poder, após cinco anos de governo centro-direita.
Com a apuração finalizada, Orsi, da Frente Ampla, recebeu 1.196.798 votos, contra 1.101.296 do rival, o candidato governista Álvaro Delgado, anunciou a Corte Eleitoral.
Orsi obteve 49,8% dos votos emitidos e Delgado 45,9%.
Gritos de euforia foram registrados na capital Montevidéu, reduto da Frente Ampla, e milhares de pessoas comemoraram o resultado nas ruas.
A Frente Ampla volta ao governo, que perdeu em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles de Mujica (2010-2015).
“Tinha confiança que Yamandú venceria. Não com tanta diferença, mas foi assim. As pesquisas estavam bastante equivocadas, mas acredito que é uma mudança importante”, disse o ex-presidente à rádio Sarandí, em referência às pesquisas divulgadas poucos dias antes do segundo turno que mostravam um empate técnico.
O ex-guerrilheiro teve uma participação ativa na campanha de Orsi.
Apesar dos seus 89 anos e de estar se recuperando de um câncer, Mujica se encontrou com eleitores e concedeu várias entrevistas, com comentários sobre seu legado político e a iminência da morte que comoveram muitos uruguaios.
Chamado ao diálogo nacional no Uruguai
Em um discurso para seus apoiadores, na Cidade Velha, onde a Frente Ampla organizou as comemorações, Orsi agradeceu a Mujica e recordou o falecido ex-presidente Tabaré Vázquez (2005–2010 e 2015–2020), entre outros líderes emblemáticos.
“Serei o presidente que convocará o diálogo nacional com frequência para encontrar as melhores soluções, claro com a nossa abordagem, mas também ouvindo muito bem o que nos dizem os demais”, afirmou.
Na campanha, o agora presidente eleito prometeu “uma mudança segura que não será radical”.
Orsi, um professor de História de 57 anos, sucederá ao presidente Luis Lacalle Pou no dia 1º de março, com um nível de aprovação próximo de 50%, mas constitucionalmente impedido de uma tentativa de reeleição imediata.
Lacalle Pou felicitou Orsi e disse que trabalhará com o presidente eleito na transição. Delgado também parabenizou Orsi a Frente Ampla.
No primeiro turno, Orsi superou Delgado por 17,2%, mas no segundo turno o candidato de Lacalle Pou recebeu o apoio de todos os partidos da coalizão governista, que juntos receberam 47,7%.
Mujica destacou a “necessidade histórica” de que os dois blocos tenham disposição para negociar, pois nenhum deles terá maioria parlamentar.
Em outubro, a Frente Ampla conquistou 16 das 30 cadeiras do Senado, enquanto a coalizão governista ganhou 49 dos 99 assentos na Câmara dos Deputados.
Ao votar no início da manhã, o ex-presidente pediu que os jovens sejam preparados para a sociedade do conhecimento.
“Meu futuro mais próximo é o cemitério, mas estou interessado no destino dos jovens, que quando tiverem a minha idade viverão em um mundo muito diferente”, disse.
Felicitações de Lula, Boric e Maduro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou Orsi na rede X. “Quero congratular o povo uruguaio pela realização de eleições democráticas e pacíficas e, em especial, o presidente eleito @OrsiYamandu, a Frente Ampla e meu amigo Pepe Mujica pela vitória no pleito de hoje. Essa é uma vitória de toda a América Latina e do Caribe. Brasil e Uruguai seguirão trabalhando juntos no Mercosul e em outros fóruns pelo desenvolvimento justo e sustentável, pela paz e em prol da integração regional”, afirmou.
Outros líderes latino-americanos de esquerda também felicitaram o presidente e a vice-presidente eleita, Carolina Cosse, e desejaram sucesso, incluindo Gabriel Boric, do Chile, Claudia Sheinbaum, do México, e Nicolás Maduro, da Venezuela.
Da Argentina, o ultraliberal Javier Milei republicou na rede social X uma mensagem do Ministério das Relações Exteriores que ratifica o “compromisso de trabalhar junto com o Uruguai”.
“Estamos preparados para reforçar nossa excelente colaboração com o país”, afirmou no X o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn.
O Uruguai, um país de 3,4 milhões de habitantes, considerado a democracia mais sólida da América Latina, tem uma elevada renda per capita e níveis de pobreza e desigualdade menores que os demais países da região, mas persistem as preocupações sobre o alto custo de vida e a criminalidade.
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