A CPI da Braskem ouve, nesta terça-feira, 5 de março, as primeiras testemunhas convocadas pelo colegiado para explicar a origem do abalo que levou ao deslocamento de mais de 60 mil moradores de cinco bairros de Maceió, em Alagoas. O tremor de terra que deixou claro o risco que a mineração de sal-gema representa para a população completou seis anos esta semana e ainda hoje os moradores da cidade buscam respostas, indenização e explicação para contratos que a empresa fechou com algumas autoridades, sem ouvir os que foram e ainda estão sofrendo as consequências da extração no subsolo da cidade.
Antes mesmo dos primeiros depoimentos serem colhidos, representantes dos bairros afetados, em Maceió, discutem o plano de trabalho da CPI e duvidam que ela vá chegar a alguma conclusão satisfatória para quem perdeu casa, trabalho e a comunidade em que vivia. Alexandre Sampaio, presidente da Associação de Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió, disse ao ICL Notícias que notou a presença do Diretor-Presidente da Braskem, Roberto Bischoff, entre os primeiros nomes a serem ouvidos na CPI. Antes mesmo de o que chamou de “crimes da Braskem” sejam discutidos.
Uma lógica que contraria completamente os trabalhos da CPMI que investigou a tentativa de golpe de Estado, quando todos os indícios e atores menores foram convocados primeiro e os principais nomes da articulação golpista foram ouvidos no final, depois que vários fatos e indícios já haviam sido estabelecidos.
Nesta terça-feira, serão ouvidos três cientistas ligados à Universidade de Alagoas, a UFAL. O Professor Abel Galindo foi um dos primeiros geólogos a relacionar as rachaduras nas casas de moradores com a atividade mineradora. Já o estudioso e pesquisador José Geraldo Marques, que tem doutorado e pós-doutorado em ecologia, condenou o projeto de extração de sal-gema em um centro urbano como Maceió desde o primeiro momento. Mas é a presença da professora Natallya de Almeida Levino que provocou a revolta dos representantes dos moradores afetados pela Braskem.
Natallya também faz pesquisas na UFAL e chegou a produzir um contra-diagnóstico questionando as conclusões da empresa Diagonal, contratada pela Braskem para explicar o desastre ambiental que a empresa provocou. Na época, a cientista apontou que a Diagonal falava em “fenômeno geológico” para descrever o que a mineração causou, e não “desastre ambiental”. Natallya Levino foi uma das autoras do estudo crítico sobre o diagnóstico da Diagonal. Mas agora os moradores de Maceió denunciam que a pesquisadora está trabalhando em parceria com a mesma Diagonal.
Segundo Alexandre Sampaio, a Braskem coopta pesquisadores com verba de pesquisa. “É assim que conseguem silenciar muita gente”, disse.
Os moradores, que esperavam ver questionados na CPI as ações da mineradora e os contratos que a empresa fechou com as autoridades, como o de R$ 1,7 bilhão, assinado pela prefeitura de Maceió no ano passado, não têm esperanças de que a Comissão Parlamentar de Inquérito revele crimes cometidos ou busque os culpados pelo maior desastre sócio-ambiental em área urbana do mundo.
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