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PEC antidrogas avança em comissão do Senado em reação ao Supremo

Texto será levado ao Senado, onde precisa do voto de ao menos 49 dos 81 senadores em dois turnos
13/03/2024 | 17h22

Por Thaísa OliveiraFolhapress

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou nesta quarta-feira (13) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza o porte e a posse de drogas em reação à retomada do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode descriminalizar a maconha para uso pessoal.

Vista como um contra-ataque do Congresso, a PEC apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD–MG), coloca no texto da Constituição que é crime possuir ou carregar qualquer tipo de droga, mesmo que seja para consumo próprio.

A PEC foi aprovada na CCJ de forma simbólica, sem a contagem de votos. Os senadores Humberto Costa (PT–PE), Jaques Wagner (PT–BA), líder do governo, e Fabiano Contarato (PT–ES) registraram voto contra.

O texto ainda será levado ao plenário do Senado, onde precisa do voto de ao menos 49 dos 81 senadores em dois turnos. Se for aprovada, a proposta será enviada à Câmara dos Deputados.

O principal argumento de Pacheco e do grupo favorável à PEC é o de que a decisão do Supremo pode liberar o que chamam de “tráfico em pequenas quantidades”.

No caso da maconha, parte dos ministros defende um limite em gramas para diferenciar o usuário do traficante como 10 gramas, 25 gramas ou 60 gramas. A PEC, por outro lado, não define critérios objetivos para a distinção e mantém a Lei Antidrogas, de 2006.

O texto original de Pacheco também não fazia nenhuma diferenciação sobre a punição para quem usa drogas e quem trafica. O relator, senador Efraim Filho (União Brasil–PB), sugeriu, por fim, que o usuário tenha pena alternativa à prisão, além de tratamento contra a dependência.

PEC

Com as mudanças, a PEC propõe a inclusão no artigo 5º da Constituição o seguinte trecho: “a lei considerará crime a posse e o porte, independentemente da quantidade, de entorpecentes e drogas afins sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, observada a distinção entre o traficante e o usuário por todas as circunstâncias fáticas do caso concreto, aplicáveis ao usuário penas alternativas à prisão e tratamento contra dependência”.

Durante a votação, boa parte dos senadores, incluindo o relator, apontou que o STF tem invadido as competências do Congresso. “O fórum adequado para que se trate questões dessa natureza, que poderá ou não levar a descriminalização da droga no Brasil, é o Parlamento”, disse Efraim.

Um dos poucos a se manifestar contra a PEC foi Contarato. Contarato afirmou a PEC não traz nenhuma inovação, e que o Congresso está sendo omisso ao deixar de definir critérios claros para distinguir o usuário do traficante.

“Sabe o que vai definir, com essa emenda que foi apresentada pelas ‘circunstâncias fáticas’? Que o pobre e preto em um local de bolsão de pobreza, se ele for flagrado com um cigarro de maconha, as circunstâncias fáticas vão ser a cor da pele e o local do crime. A ele vai ser atribuído tráfico de entorpecentes.”

Críticos à Lei Antidrogas apontam que a falta de critérios objetivos faz com que pessoas flagradas nas mesmas circunstâncias tenham tratamento diferente conforme a cor da pele e a condição social.

Durante seu voto, o ministro Alexandre de Moraes citou um levantamento feito pela Associação Brasileira de Jurimetria. “O branco precisa estar com 80% a mais de maconha do que o preto e pardo para ser considerado traficante”, disse o ministro.

Após CCJ, texto segue para duas votações no plenário do Senado Foto: Jonas Pereira/ Agência Senado

Votação

O placar no STF está em cinco votos a três pela descriminalização do porte de maconha. Na semana passada, André Mendonça e Nunes Marques se juntaram a Cristiano Zanin e votaram contra a descriminalização.

Já o presidente da corte, Luís Roberto Barroso, e os ministros Edson Fachin, Rosa Weber (já aposentada), Moraes e Gilmar Mendes votaram, em sessões anteriores, a favor da descriminalização da maconha para uso pessoal.

O julgamento no STF foi novamente suspenso na corte depois que o ministro Dias Toffoli pediu vista (mais tempo para analisar o processo). Logo após a interrupção, Pacheco disse que uma eventual decisão mantendo a criminalização seria bem vista pelo Congresso.

Pacheco sinalizou aos colegas que a PEC só será votada no plenário após as cinco sessões de debates exigidas pelo regimento.

O presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União–AP), defendeu agilidade. “Depois que sai da CCJ não me cabe mais opinar se ela [PEC] vai andar rápido ou lentamente. Minha opinião é que ande rápido”, disse à reportagem.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou na semana passada que não sabe se o governo vai se posicionar sobre o tema: “A gente não tem uma posição firmada de governo. E os partidos, evidentemente, cada um terá uma posição”.

Já o líder do PT, Beto Faro (PA), disse à Folha de São Paulo que a bancada ainda não decidiu como vai se manifestar durante a votação no plenário. O senador afirmou, entretanto, que acha problemático alterar a Constituição para isso.

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