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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Deputada ‘madrinha’ da milícia jantou com relator de sua cassação: ‘Grande amigo’

Lucinha se encontrou com deputado Vinícius Cozzolino em meio às investigações conduzidas pela PF
04/05/2024 | 05h00

Por Igor Mello

Apontada pela Polícia Federal como ‘madrinha’ e braço político da maior milícia do Rio de Janeiro, a deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) jantou com o relator de seu processo no Conselho de Ética da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) três semanas antes dele assumir a função.

Em suas redes sociais, ela classificou o colega Vinícius Cozzolino (União Brasil-RJ) como um “grande amigo”.

Lucinha e Cozzolino jantaram no dia 14 de março, em encontro que também teve a presença do secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz (PSD-RJ). Em 10 de abril, Cozzolino assumiu a relatoria do processo de cassação de Lucinha, que antes estava a cargo do colega Felipinho Ravis (Solidariedade-RJ).

Lucinha foi indiciada pela PF por envolvimento com o Bonde do Zinho, maior milícia do Rio, nesta semana, segundo o portal G1. Ela foi afastada do mandato por decisão judicial em 18 de dezembro de 2023, dia em que foi alvo da Operação Batismo, da PF, por sua suposta ligação com o grupo paramilitar comandado por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho.

A milícia domina diversos bairros da zona oeste do Rio, além de áreas de municípios da Baixada Fluminense. Mesmo diante de diversos indícios comprometedores, a Alerj decidiu em fevereiro, por 52 votos a 3, devolver o mandato da parlamentar. Cozzolino votou a favor de Lucinha.

Em uma publicação nas suas redes sociais, posteriormente apagada, Lucinha comemorou o encontro: “Na noite de ontem (14/3), depois do expediente da Alerj, fui confraternizar e jantar com os meus grandes amigos Daniel Soranz e Vinícius Cozzolino”, escreveu a deputada.

Segundo a Alerj, os trabalhos do Conselho de Ética foram retomados no dia 29 de abril, quando os prazos do processo de Lucinha foram retomados. O colegiado tem cinco dias corridos para citar e intimar a deputada que, a partir desse momento, passa a ter dez dias para entregar sua defesa por escrito.

Procurado pela coluna, o deputado Vinícius Cozzolino afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não discutiu com Lucinha seu processo de cassação no jantar e destacou que assumiu a relatoria do caso quase 1 mês depois do encontro.

Sobre sua suposta relação de amizade com a acusada, ele disse que “tem bom relacionamento com os outros 69 deputados da Alerj, e com a deputada Lucinha não é diferente”.

Deputada Lucinha. Foto: Reprodução

‘Madrinha da milícia’, diz PF

Na investigação que culminou na Operação Batismo, a PF mostra que Lucinha atuava como braço político do Bonde do Zinho, fazendo lobby junto a órgãos públicos em defesa de interesses do grupo criminoso e mantendo constantes contatos com o miliciano Domício Barbosa de Souza, o Dom, apontado pela PF como operador financeiro da milícia.

Em troca, recebia apoio do grupo criminoso e ganhava exclusividade para fazer campanha em favelas da Zona Oeste controlada pelos paramilitares.

A pedido do miliciano, Lucinha chegou a articular duas reuniões de motoristas de vans com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD-RJ), em defesa de uma brecha na regulamentação do transporte alternativo que beneficiava a exploração do serviço pelo grupo criminoso.

Ela levou o prefeito à Santa Cruz, na zona oeste do Rio, onde ambos discursaram para motoristas de vans exploradas pelo grupo criminoso. A estrutura do evento, como cadeiras e lonas, foi fornecida pelos milicianos a pedido da deputada, mostram conversas obtidas pela PF com autorização da Justiça.

Lucinha também é acusada pela PF de usar sua influência para tentar soltar milicianos presos em flagrante e mudar o comando de um batalhão na PM na Zona Oeste — que estava atrapalhando os planos da milícia. Também teria vazado informações sobre operações policiais para a quadrilha.

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