“Oh, surfista calhorda/ Vai surfar em outra borda”.
Recorro novamente ao rock gaúcho, agora para tratar dos picaretas que surfam nas ondas das fake news e desmantelam os serviços públicos e o trabalho dos voluntários no atendimento às pessoas atingidas pela tragédia climática do Rio Grande do Sul.
“Surfista Calhorda” é um clássico d´Os Replicantes, banda de Porto Alegre que faria nesta semana (16/05), um show para comemorar 40 anos de trajetória, no Bar Opinião, na Cidade Baixa. O concerto foi adiado, lógico, por causa da enchente, mas a trilha punk-rock ecoa em protesto contra os Pinóquios da cheia.
Na primeira grande onda da desinformação, surfaram os influencers (ex-BBB Nego Di e grande elenco), os coachs (Pablo Marçal, etc) e políticos da linhagem do prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin (PP), o cover de Elvis Presley que cobrou recursos do governo Lula, mesmo antes de enviar o pedido de verba para a administração federal.
Outra leva logo chegou nas mesmas águas. Surfistas engravatados de Brasília: Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT) e Coronel Ulysses (União-AC). Com ou sem patentes, despejaram fake news em plena tribuna da Câmara.
Replicantes neles: “Corpo de atleta, rosto de Baby Johnson/ É, mas quando entra na água/ É, na primeira braçada/ É, ele não vale uma naba/ Ele não surfa nada, ele não surfa nada”.
Tremendo estrago provoca um surfista calhorda durante a crise climática. Estrago, às vezes, mortal.
O impostor dá uma canseira no poder público, que precisa mobilizar tropas de socorro, por exemplo, para falsas situações, como já ocorreu em um hospital de Canoas.
O criador de fake news é perverso. Ele faz questão de rotular o voluntário de otário. Ele sacaneia o checador de serviços do tipo “fato ou fake” de propósito. O seu negócio é nos colocar na condição imbecil do enxugador de gelo ou de um Sísifo rolando pedra acima do morro — para depois sermos atropelados pela mesma pedra.
O surfista calhorda às vezes trabalha em parceria com a “Dona Divergência”. Opa, mas agora já estamos misturando Replicantes com Lupicínio Rodrigues, outro monstro genial da música portoalegrense.
A senhora Divergência segue com seu archote, amigo Lupicínio, espalhando os raios de morte, a destruir o cais. Tudo como escreveste, meu velho, na mais contundente das letras.
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