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Brasil pós-Bolsonaro tem maior avanço em liberdade de expressão, diz ONG

Com 81 pontos, em uma escala de 0 a 100, país passou da 87ª posição para a 35ª
21/05/2024 | 12h42

Por Angela Pinho

(Folhapress) — O Brasil registrou o maior avanço mundial em um relatório sobre liberdade de expressão após a saída de Jair Bolsonaro (PL) da Presidência da República.

O Global Expression Report 2024, divulgado pela organização Artigo 19, com sede em Londres, traz dados relativos a 2023 para 161 países, classificados em cinco categorias: aberto, menos restrito, restrito, altamente restrito ou em crise.

Com 81 pontos, em uma escala de 0 a 100, o Brasil passou da 87ª posição para a 35ª, saindo de restrito para aberto. O avanço foi de 26 pontos.

Para calcular essa pontuação, a organização seleciona 25 indicadores de seis áreas da base de dados V-Dem. A base do instituto sueco de mesmo nome tem cerca de 600 indicadores para cada país, cuja avaliação é feita por cerca de 4.000 especialistas ao redor do mundo.

As áreas levadas em conta pela Artigo 19 são: leis e sua aplicação; direitos digitais; liberdade de mídia, participação política; participação cívica; e liberdade política e privada.

Em 17 dos 25 indicadores avaliados, o Brasil registrou melhora em 2023, primeiro ano do terceiro mandato de Lula (PT), em relação a 2022, último ano de Bolsonaro.

O avanço do país se deu em temas como participação de organizações da sociedade civil; liberdade de publicação de conteúdo político; monitoramento governamental da internet; transparências das leis e sua aplicação; violência política e liberdade religiosa e acadêmica.

Confira ranking dos melhores e piores países segundo ONG

Os 5 melhores

1. Dinamarca — 95 pontos.
2. Suíça — 93 pontos.
3. Suécia — 93 pontos.
4. Bélgica — 92 pontos.
5. Estônia — 92 pontos.

Próximos ao Brasil

33. Reino Unido — 81 pontos.
34. Eslováquia — 81 pontos.
35. Brasil — 81 pontos.
36. Malta — 81 pontos.
37. Honduras — 80 pontos.
38. Taiwan — 80 pontos.

Os 5 piores

157. Turcomenistão — 1 ponto.
158. Belarus — 1 ponto.
159. Nicarágua — 1 ponto.
160. Eritreia — 1 ponto.
161. Coreia do Norte — 0 pontos.

Nos últimos anos, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) enfrentaram questionamentos por decisões relacionadas à liberdade de expressão.

Essas críticas ganharam combustível no bolsonarismo em abril deste ano ao serem endossadas e amplificadas pelo empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter).

Chamado por Bolsonaro de “mito da liberdade”, o bilionário condenou as decisões de remoção de conteúdo pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF e do TSE, e afirmou que iria descumpri-las — o que, segundo o braço brasileiro do X, não aconteceu.

Em reação, o ministro incluiu Musk no inquérito das milícias digitais. Moraes tem defendido sua atuação sob o argumento de que liberdade de expressão não equivale a salvo-conduto para agressões e discursos preconceituosos ou antidemocráticos.

O governo Lula, por sua vez, entrou na mira da oposição após anúncio de investigação da Polícia Federal sobre fake news relacionadas à tragédia no Rio Grande do Sul.

Deputados bolsonaristas dizem ver na medida uma tentativa de cerceamento de discursos. Já o governo afirma que busca combater a desinformação.

Co-diretor-executivo da Artigo 19 no Brasil, Paulo José Lara avalia que a melhora do país tem forte ligação com o fim da gestão Bolsonaro, marcada por ataques a cientistas, jornalistas e à sociedade civil organizada em geral.

Relatórios anteriores da organização sobre a gestão Bolsonaro já haviam rebaixado a pontuação brasileira citando ataques a jornalistas, desinformação propagada por agentes do governo durante a pandemia de Covid e falta de transparência de dados públicos.

Para Lara, o governo Lula levou a uma normalização institucional que permitiu ao Brasil melhorar no tema, tanto em relação à liberdade jornalística quanto a outras formas de expressão.

Ele destaca especialmente a área de participação cívica, mencionando a retomada de conselhos multissetoriais e grupos consultivos.

Por outro lado, o codiretor avalia que também há pontos negativos tanto na atuação da gestão petista quanto na do Judiciário em relação à liberdade de expressão.

A primeira lacuna do governo federal teria sido não conseguir implementar medidas efetivas contra desinformação.

Embora tenha tentado articular a aprovação de um projeto de lei contra desinformação no Congresso Nacional, o chamado PL das Fake News, a proposta não avançou.

Ele afirma ainda que, mesmo com a elogiável, em sua opinião, criação de pastas como a de Direitos Humanos e dos Povos Originários, ainda é preciso implementar políticas concretas e com financiamento robusto para proteger comunicadores, defensores ambientais e de direitos humanos.

Por fim, Lara critica o que vê como falta de disposição do governo para a democratização dos meios de comunicação, especialmente rádio e televisão.

Ele destaca que o relatório avalia apenas a independência do Judiciário, sem entrar no mérito de suas decisões. Ainda assim, ele avalia que falta ao Poder o estabelecimento de parâmetros para decisões relativas à liberdade de expressão.

“Isso faz com que o Judiciário tenha resoluções erráticas e muitas vezes até contraditórias quando é instado a opinar”, diz.

Por outro lado, ele afirma que os tribunais ficaram mais expostos pela ausência de uma regulamentação legal e pela situação atípica da articulação golpista dentro do governo Bolsonaro.

Mundo

Com a subida de posição, o Brasil ficou em sexto lugar nas Américas em relação à liberdade de expressão, atrás de Canadá (14ª), Argentina (15ª), Estados Unidos (26ª), Chile (27ª) e Jamaica (28ª).

Lideram o ranking global Dinamarca, com 95 pontos, seguida de Suécia e Suíça, ambas com 93, e depois por Bélgica, Estônia e Noruega, as três com 92.

A pior posição global é a da ditadura comunista da Coreia do Norte, com pontuação nula. China, Turcomenistão, Belarus, Nicarágua e Eritreia completam o conjunto de países na lanterna do ranking.

Uma importante novidade da edição atual do relatório foi a mudança de status da Índia, sob o governo do direitista Narendra Modi, de altamente restrito para em crise.

Com isso, o documento considera que mais da metade da população mundial (53%) vive em países em crise de liberdade de expressão. Só 23% habitam países com expressão livre ou menos restrita.

Áreas em que o Brasil melhorou, segundo o relatório

Participação cívica

  • Consulta a organizações da sociedade civil.
  • Liberdade das organizações da sociedade civil.
  • Engajamento da sociedade.

Direitos digitais

  • Liberdade em relação prisão por conteúdo político.
  • Liberdade em relação a filtros governamentais na internet.
  • Liberdade em relação a monitoramento governamental de mídia social.

Leis e sua aplicação

  • Leis transparentes com aplicação previsível.

Liberdade de mídia

  • Liberdade contra censura governamental.
  • Liberdade contra assédio a jornalistas.
  • Liberdade contra autocensura da mídia.

Participação política

  • Liberdade contra assassinato político.

Liberdades privadas e políticas

  • Liberdade de expressão acadêmica e cultural.
  • Liberdade de intercâmbio acadêmico.
  • Liberdade de discussão para homens.
  • Liberdade de discussão para mulheres.
  • Liberdade de reunião pacífica.
  • Liberdade de religião.

 

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