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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Flávio Bolsonaro convoca ato com prefeito flagrado em reunião com chefes de milícia

Senador divulgou ato em apoio de Professor Lucas (PP), prefeito investigado por ligação com a milícia
28/08/2024 | 18h04

Igor Mello

O senador Flávio Bolsonaro (PL), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PL), usou suas redes sociais para convocar seus apoiadores para um ato ao lado do prefeito de Seropédica, Professor Lucas (PP), que tenta a reeleição. O político foi flagrado em uma reunião com cinco milicianos, entre eles Delso Lima Neto, o Delsinho, segundo em comando de uma das maiores milícias do Rio na época.

No vídeo, publicado em suas redes sociais na tarde desta quarta-feira (28), Flávio Bolsonaro convida seus apoiadores na região para um ato em apoio à campanha de Professor Lucas à reeleição.

“O resgate do nosso Brasil em 2026 começa agora em 2024. Quero fazer um convite a todos aí de Seropédica (…) Vamos fazer mais um grande evento aí na cidade, junto com a nossa vereadora Luciana Alves (PMB) e com o nosso prefeito Professor Lucas”, diz o senador no vídeo.

Flávio Bolsonaro viveu um desgaste público após o jornal O Globo revelar em janeiro de 2019 que ele empregou a mãe e a ex-mulher do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, chefe do Escritório do Crime, em seu gabinete. Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega foram denunciadas pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) como integrantes do esquema de rachadinha no gabinete de Flávio. Segundo as investigações, o senador também teria usado empresas em nome de Adriano e de Raimunda para lavar parte dos recursos recolhidos com assessores por Fabrício Queiroz.

Prefeito foi flagrado em reunião com chefes da milícia

Nas imagens reveladas pela TV Globo em 2022, Professor Lucas é flagrado conversando com milicianos. Um deles está em pé portando um fuzil. Entre os criminosos identificados pela Polícia Civil na reunião está Delso Lima Neto, o Delsinho.

Professor Lucas (ao centro, de camisa cinza) em reunião com milicianos. Prefeito recebeu apoio de Flávio Bolsonaro

Professor Lucas (ao centro, de camisa cinza) em reunião com milicianos. Prefeito recebeu apoio de Flávio Bolsonaro

Delsinho era irmão e braço direito de Danilo Dias Lima, o Tandera, um dos criminosos mais procurados do Rio de Janeiro. Os dois chefiavam uma das maiores milícias do estado e, na ocasião, controlavam áreas das cidades de Seropédica e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e de Santa Cruz, bairro na zona oeste do Rio de Janeiro.

Delsinho foi morto em uma operação policial em agosto de 2022. Após o episódio, Tandera desapareceu e viu outros criminosos assumirem as áreas que ele controlava anteriormente. A Polícia Civil do Rio segue em busca do miliciano, que está foragido da Justiça.

Segundo fontes ouvidas pela coluna, a reunião ocorreu no contexto de apoio do grupo paramilitar à candidatura de Professor Lucas a prefeito, em 2020. Em troca, os milicianos exigiam o poder de indicar nomes ligados ao grupo criminoso em cargos de segundo e terceiro escalão na administração municipal, segundo as investigações.

Um dos homens presentes à reunião, o PM Romildo da Silva Paiva, conhecido como Disk, apoiou publicamente Lucas na disputa. Ele é apontado como integrante da milícia em Seropédica. Ele chegou a ser nomeado por Professor Lucas como subsecretário de Inteligência e Logística na Secretaria de Ordem Pública do município — pasta cobiçada por grupos milicianos no Grande Rio.

Professor Lucas também é investigado pela Polícia Civil do Rio por seu suposto envolvimento com a milícia que atua na cidade.

Na lista dos mais procurados

Tandera e Delsinho eram conhecidos por sua violência e travaram uma guerra sangrenta com a milícia comandada por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, pelo controle de áreas na Zona Oeste do Rio e na Baixada Fluminense. Os dois grupos eram aliados, mas romperam quando Zinho assumiu o comando da quadrilha após morte de seu irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko, que comandava o grupo até junho de 2021.

O miliciano Delsinho, com recompensa no Portal dos Procurados

O miliciano Delsinho, com recompensa no Portal dos Procurados

Diante das dezenas de assassinatos e dos tiroteios que marcaram a guerra entre as quadrilhas, o governador Cláudio Castro (PL), companheiro de partido de Flávio Bolsonaro, listou Tandera como um dos três criminosos mais procurados do Rio em outubro de 2023. A declaração ocorreu após milicianos ligados a Zinho incendiarem 35 ônibus e uma estação de trem na zona oeste do Rio, em represália à morte do sobrinho do miliciano, conhecido como Faustão.

”Esses três criminosos; Zinho, Tandera e Abelha: não descansaremos enquanto não prendermos eles”, disse Castro.

Cartaz de procurado de Danilo Dias Lima, o Tandera

Cartaz de procurado de Danilo Dias Lima, o Tandera

Zinho se entregou à Polícia Federal em dezembro de 2023. Tandera e Abelha, principal chefe do Comando Vermelho em liberdade, seguem foragidos.

Investigação por compra de votos

Professor Lucas também é investigado por possível crime de compra de votos durante a eleição suplementar para prefeito do município de Itatiaia, no Sul Fluminense, em março de 2022.

Na ocasião, ele foi visto circulando pela cidade com cerca de 30 pessoas, incluindo agentes de segurança pública armados.

No carro do prefeito, policiais encontraram R$ 15 mil em dinheiro vivo e dois cadernos com anotações.

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