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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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A esquerda nunca mais vai voltar para as ruas?

Essa lição, que por tanto tempo os esquerdistas mostraram à direita, agora é lembrada pelos bolsonaristas
27/11/2023 | 05h50

Desde ontem, as redes sociais revivem um debate tão desagradável quanto inútil. A manifestação realizada por apoiadores de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, contra o Supremo Tribunal Federal e contra Lula, ocupou mais espaço nas plataformas digitais do que no asfalto.

De um lado, os bolsonaristas postando fotos do ato em ângulos que fizessem parecer lotado e, como de costume, imagens de protestos do passado para tentar enganar os incautos.

Do outro lado, a esquerda e os opositores de Bolsonaro repetindo que a manifestação “flopou” e exibindo fotos e vídeos de trechos da Paulista com muitos espaços vazios.

A estimativa de público foi de mil pessoas, de acordo com avaliações aleatórias, a 13 mil manifestantes, segundo um cálculo da USP.

Para completar o domingo, retomou-se a antiga discussão: a força política de Bolsonaro pode ser medida por esses eventos? Se pode, como avaliar o protesto de ontem? Foi grande, porque tomou algumas quadras da avenida, ou foi pequeno, por ser resultado da concentração de esforços de Bolsonaro, Silas Malafaia e deputados de vários estados?

Antes de ter resposta para essas perguntas, há uma certeza: mais uma vez, mesmo depois da vitória eleitoral de Lula e tantas derrotas judiciais de Bolsonaro, a extrema direita está pautando as ações e as discussões sobre política fora dos ambientes refrigerados de Brasília.

É preciso muito esforço para puxar pela memória e lembrar a última vez que as forças políticas de esquerda juntaram gente na rua em época não eleitoral.

Só um estudo sociológico, uma análise mais aprofundada, para entender os motivos que tiraram os militantes progressistas das manifestações. Desilusão com a política, desilusão com o PT, desencanto com as possibilidades de intervenção da sociedade civil, deslocamento da militância para as redes sociais… são muitas as explicações possíveis.

No entanto, uma coisa é certa: as tretas no X ou no Instagram têm valor para esquentar a discussão política, mas o espaço das ruas não pode ser deixado apenas à turma de verde e amarelo. As mobilizações com centenas ou milhares de pessoas servem tanto para dar ânimo quanto para impressionar os opositores.

Essa lição, que por tanto tempo os esquerdistas mostraram à direita, agora é lembrada pelos bolsonaristas.

A depressão da militância progressista jamais será superada? A esquerda nunca mais ocupará as ruas como fazia antes?

O colunista, infelizmente, não sabe dizer.

Mas se as respostas a essas duas perguntas for “não”, o país certamente não estará em bom caminho.

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