Gerou grande interesse a informação de que um dos robôs da linha de montagem da Tesla, fábrica de carros elétricos de Elon Musk, localizada no Texas, Estados Unidos, “agarrou” um funcionário da empresa e o feriu. O engenheiro tentava reprogramar outros dois robôs quando houve o ataque de uma terceira máquina. O equipamento, que serve para mover e cortar partes de alumínio dos veículos comercializados, agarrou com dedos de aço os braços do empregado e o deixou sangrando.
O fato ocorreu há dois anos, mas só agora veio a público. A notícia causou apreensão, pois remete ao futuro distópico descrito em livros e filmes de ficção científica, em que máquinas desbancam os humanos e dominam mundo.
Diante do avanço da inteligência artificial, que está instalada em tantos aparelhos, esse medo se justifica?
Os cientistas se dividem para responder a essa questão.
“O século 21 não vai chegar ao fim antes que a máquina supere o ser humano em inteligência”, avisa a pesquisadora Viktoriya Krakovna, da Universidade Harvard. “Não é questão de ‘se’, mas de ‘quando’.”
Viktoriya ajudou a fundar, em março de 2014, o Instituto Futuro da Vida (FLI, na sigla em inglês), organização sem fins lucrativos com sede em Boston, nos Estados Unidos. A entidade divulgou duas cartas abertas sobre o tema. Na primeira, alertava a comunidade científica internacional sobre o perigo do mau uso da inteligência artificial. Tão importante quanto potencializar os benefícios da tecnologia, dizia a carta, é evitar suas armadilhas. Depois, elevou o tom. Chegou a pedir à ONU que máquinas de guerra autônomas, daquelas que eliminam alvos sem intervenção humana, fossem banidas antes mesmo de sua criação.
O grau de autonomia dos robôs tem avançado bastante. Um deles, criado no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), é capaz de produzir, de forma autônoma, outros robôs, cada vez mais velozes e inteligentes do que a versão original. Segundo Luzius Brodbeck, coordenador do estudo suíço, não há motivo para pânico: “Robôs que atacam os criadores e, em seguida, tomam conta do planeta não são minimamente realistas.”
Mary Wareham, porta-voz da Human Rights Watch (HRW), levanta outro tipo de questionamento. “Se um robô comete um assassinato, quem será o culpado?”, pergunta. Uma das mais respeitadas ONGs de defesa dos direitos humanos, a HRW foi uma das primeiras a tratar do assunto. Divulgou, em abril de 2015, o documento Mind the Gap: The Lack of Accountability for Killer Robots (Cuidado: A Falta de Prestação de Contas dos Robôs Assassinos,), sobre a dificuldade de responsabilizar criminalmente programadores e fabricantes de máquinas autônomas por violações da lei.
São muitas as perguntas, admite Pericle Salvini, do Instituto de Biorrobótica da Scuola Superiore Sant’Anna, na Itália. E poucas as respostas. Por essa razão, ele criou o consórcio RoboLaw, que se propôs a refletir sobre as implicações éticas e apresentar propostas regulatórias à União Europeia. “O problema é que, por conta da complexidade dos sistemas autônomos, será cada vez mais difícil identificar um único responsável”, pondera Salvini.
Uma equipe da Universidade de Oxford, que reuniu engenheiros, matemáticos e filósofos, publicou o relatório 12 Risks That Threaten Human Civilization (12 Riscos que Ameaçam a Civilização Humana). No topo do ranking de ameaças cientificamente comprovadas, está a inteligência artificial. “As chances de, um dia, os robôs riscarem os seres humanos da face da Terra são de 10%”, estima o filósofo Stuart Armstrong, de Oxford, um dos coordenadores do estudo.
Um dos mais respeitados futurólogos do planeta, o diretor do Instituto Futuro da Humanidade (FHI), Nick Bostrom, não acredita que os robôs venham a ser ameaça para a humanidade maior que os próprios humanos. “Não estou preocupado se os robôs vão desobedecer ordens dos humanos”, dá de ombros. “Minha preocupação é outra: se os humanos derem ordens estúpidas, você pode ter certeza de que eles as executarão.”
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