Nos últimos anos, o impacto das mudanças climáticas sobre a economia tem se tornado cada vez mais evidente. Produtos essenciais, como o azeite e os ovos, tiveram aumentos expressivos de preço devido a fenômenos climáticos extremos, como secas e calor intenso.
Diante desse cenário, a economia verde surge como uma alternativa essencial para garantir um futuro sustentável e financeiramente mais viável. Mas, afinal, como a economia verde pode transformar o dia a dia dos consumidores?
Entenda o conceito de economia e como a escalada para uma economia baseada na sustentabilidade pode ser a resposta para economizar financeiramente e ainda ajudar o meio ambiente.
O que é economia?
Economia é a ciência que estuda como os recursos são produzidos, distribuídos e consumidos para atender às necessidades humanas. Ela analisa fatores como oferta, demanda, inflação e crescimento econômico, buscando compreender a melhor forma de alocar recursos de maneira eficiente.
Além disso, a economia abrange diferentes modelos de organização, como a economia capitalista, que se baseia na propriedade privada e na livre negociação de bens e serviços no mercado.

O estudo da economia brasileira inclui a análise de políticas monetárias, fiscais, renda, comércio exterior, setores tecnológicos e inovações com foco no desenvolvimento da sociedade. Imagem: reprodução
O que é economia verde?
Um modelo econômico é uma estrutura que define como uma sociedade organiza a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, sempre considerando fatores estratégicos como eficiência, equidade e sustentabilidade.
A economia verde, por sua vez, é um modelo econômico que busca equilibrar crescimento, bem-estar social e conservação ambiental. Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 2008, esse conceito se baseia na produção de baixo carbono, no uso eficiente e sustentável dos recursos naturais e na inclusão social.
Diferente da chamada “economia marrom”, que prioriza o crescimento sem considerar os impactos ambientais, a economia verde propõe um desenvolvimento que preserve e valorize os recursos naturais – que acaba beneficiando principalmente as populações em estado de vulnerabilidade.

A economia verde reduz custos, evita desperdícios e cria novos mercados e empregos sustentáveis. Imagem: iStock
O impacto da alta dos preços nos supermercados
Você já deve ter notado como os preços de alimentos básicos, como óleo, azeite e ovos, podem variar. Mas o que pode influenciar essas oscilações?
O aumento do preço de diversos produtos nas prateleiras dos mercados, em muitos casos, pode ser diretamente associado às mudanças climáticas. Eventos extremos, como secas prolongadas, enchentes e ondas de calor, impactam a produção agrícola e pecuária, reduzindo a oferta e, consequentemente, elevando os preços.
Aqui tem uma lista com alguns produtos que já foram impactados:
- Azeite: secas extremas no Mediterrâneo levaram a uma queda drástica na produção de azeitonas, elevando em 50% o preço do azeite nos últimos anos.
- Ovos: Em 2025 o calor extremo afetou as condições de criação de galinhas poedeiras, resultando em uma alta de 67% no preço dos ovos.
- Café: No final de 2024, o café estava 58% mais caro em comparação ao mesmo período do ano anterior, entre as explicações estava a redução das chuvas em regiões produtoras do Brasil.
- Arroz: inundações e secas afetaram as plantações de arroz na Ásia e na América Latina, pressionando o preço do grão. Por exemplo, em 2023 o preço do arroz branco tailandês atingiu US$ 648 por tonelada, marcando o nível mais alto desde outubro de 2008. Esse valor representa um aumento de quase 50% ao longo do último ano.
O calor é, de fato, o evento climático extremo mais ameaçador para a agricultura em todo o mundo. Uma pesquisa divulgada em março de 2024 pela revista Nature apontou que a chamada “heatflation” – termo em inglês criado pelo portal americano Grist, especializado em mudanças climáticas – pode elevar os preços dos alimentos em até 3% ao ano até 2035.
De acordo com o estudo, a cada aumento de 1 °C na temperatura média de um mês, a inflação dos alimentos tende a crescer cerca de 0,2% ao longo dos 12 meses seguintes, sem considerar os impactos acumulados de conflitos armados e crises econômicas globais.

Diariamente, aproximadamente 28 milhões de consumidores frequentam supermercados no Brasil. Imagem: divulgação
Como a economia verde pode te ajudar a economizar
Se a economia verde é um modelo econômico cujo objetivo é proporcionar melhorias relacionadas à igualdade social, bem-estar da humanidade e redução de riscos, um plano econômico baseado nesses pilares pode ser a solução para que a população economize com produtos das prateleiras nos próximos anos.
Mais do que isso, a economia verde estimula o uso de energias renováveis, a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento de tecnologias limpas e garante mais economia e qualidade de vida em geral.
Um exemplo disso é a redução do preço do café, especialmente em tempos de seca, ao focar em práticas agrícolas mais sustentáveis. Isso inclui o uso mais eficiente da água, como sistemas de irrigação que economizam recursos, e o cultivo de diferentes tipos de plantas para garantir uma produção estável, mesmo quando o clima é desfavorável.
Dados sobre a economia verde
Uma pesquisa realizada pelo WRI Brasil em colaboração com pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indica que a implementação do modelo de economia verde pode acrescentar R$ 2,8 trilhões ao PIB do Brasil e criar 2 milhões de empregos em dez anos, além de fortalecer a resistência do país às mudanças climáticas.
O estudo considera o crescimento baseado em um cenário em que o Brasil adote um modelo econômico com ações específicas que promovam o baixo carbono, a redução de desperdício de alimentos, aumento da produtividade agrícola e consequentemente a diminuição do desmatamento.
A pressão por uma recuperação econômica sustentável se intensifica com manifestações tanto no Brasil quanto internacionalmente sobre os riscos ambientais e financeiros relacionados à mudança climática.
Exemplo disso foram os ativistas do grupo ambientalista Just Stop Oil que vandalizaram o túmulo do famoso naturalista Charles Darwin em Londres para denunciar a omissão política ao aquecimento global.
As ativistas picharam o túmulo do naturalista Charles Darwin com “1.5 is dead” que, em tradução livre, significa “1.5 estão mortos” fazendo referência à meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais – algo que não é mais alcançável.

Ativistas sentadas ao lado da pichação na Abadia de Westminster, em Londres. Imagem: Jamie Lowe
O papel das políticas públicas na economia verde
A economia verde não depende só da iniciativa privada ou dos consumidores. É fundamental a atuação do poder público para que possamos ter leis de incentivo à energia limpa que façam sentido para a realidade brasileira, além de subsídios para incentivar cada vez mais práticas agrícolas sustentáveis.
Outro tema que está sendo debatido cada vez mais é a possibilidade de cobrar multas para quem polui. A ideia, também chamada de “tributação ambiental” , está em discussão há anos no Brasil e tem o objetivo de desestimular práticas poluentes e incentivar modelos mais sustentáveis.
Um dos principais instrumentos nesse sentido é o mercado de carbono, que está sendo regulamentado no país. Em 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). Esse sistema estabelece que empresas que emitem mais gases do que o permitido terão que comprar créditos de carbono de quem polui menos – criando um estímulo econômico à redução das emissões.
Hoje, mesmo antes da regulamentação oficial, empresas brasileiras dos setores de energia, agronegócio e siderurgia já participam voluntariamente de mercados de carbono, especialmente no mercado internacional.
Exemplos incluem Natura, Petrobras, Suzano e empresas do setor sucroalcooleiro, que têm adotado práticas de compensação de emissões e venda de créditos. Além disso, estados como São Paulo e Paraná já adotaram ICMS Verde, que destina mais recursos a municípios que investem em preservação ambiental.
Diante dos impactos cada vez mais visíveis das mudanças climáticas na economia e na vida cotidiana – como a alta dos preços nos supermercados e os riscos à produção agrícola -, a economia verde surge não apenas como uma alternativa, mas como uma necessidade urgente.
Ao promover o uso eficiente dos recursos naturais, incentivar práticas agrícolas sustentáveis, criar empregos verdes e reduzir desigualdades, esse modelo representa um caminho viável para proteger o planeta e o seu bolso ao mesmo tempo.
Mais do que uma transformação ambiental, a economia verde é uma oportunidade de repensar nossas prioridades enquanto sociedade, valorizando a justiça climática, a inclusão social e o crescimento econômico sustentável.
Seja como consumidor, empresa ou governo, todos temos um papel nessa transição. E quanto antes começarmos, maiores serão os benefícios para o presente – e para as próximas gerações.
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