O pacote tarifário anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (2) deve elevar a inflação global e gerar cenário de recessão nos EUA, segundo analistas ouvidos por reportagem do UOL.
Os impactos do pacote, que atingirá dezenas de parceiros comerciais dos EUA, incluindo uma sobretaxa de 10% aos produtos importados do Brasil, está afetando as bolsas mundiais nesta manhã de quinta-feira (3).
Os índices futuros dos EUA e as bolsas europeias operam com forte desvalorização. Os mercados asiáticos também fecharam no vermelho. Diante desse quadro, é esperado que a B3, a Bolsa brasileira, seja influenciada pelo mau humor geral.
Os especialistas ouvidos pela reportagem apontaram riscos de recessão na economia norte-americana, com perda de padrão de vida dos norte-americanos, e cenário de estagflação, o que significa situação simultânea de estagnação econômica, ou até mesmo recessão, e altas taxas de inflação.
Para Marcio Sette Fortes, professor de relações internacionais do Ibmec, a imposição de tarifas a produtos importados eleva os preços desses itens dentro dos Estados Unidos, e quem vai pagar essa conta é o consumidor norte-americano. “Isso gera inflação na economia do país. Wall Street já está com expectativa inflacionária”, lembrou.
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), também apontou que a estratégia de Trump pode levar à perda do padrão de vida dos norte-americanos.
“A inflação já está perigosa nos EUA, perto de 3%. Com as tarifas, há expectativa de chegar a 6% e aí as pessoas param de comprar, o que vai levar a um quadro de recessão”, disse.
Além disso, o aumento de tarifas deve reduzir o comércio internacional de forma ampla e o efeito disso é aumento da inflação para diversos produtos e países, segundo Trevisan. “Quando reduz o comércio, a oferta, os preços sobem, isso é indiscutível”, apontou.
Inflação global e países mais atingidos por medidas
Durante participação no ICL Notícias 1ª edição desta quinta-feira, o professor Leonardo Trevisan apontou que os principais parceiros comerciais dos EUA serão os mais afetados. São eles México, Canadá e China.
Dos três, ele vê a China como aquele que vai reagir de modo mais contundente, uma vez que países considerados satélites chineses, como Camboja e Vietnã, foram impactados com tarifas pesadíssimas no pacotaço de Trump.
“A China de alguma forma percebeu o cerco e a China vai reagir coletivamente – não vai agir sozinha. A China vai usar o veneno como remédio. Vai fazer uma ação multilateral”, pontuou.
Na avaliação de Trevisan, Trump não é bobo. “Ele é um comunicador de primeira linha”, disse, reforçando que os EUA “torceram os números” para que eles dissessem o que o governo norte-americano quer, ou seja, meios de justificar o pacote de medidas.
No caso brasileiro, que obteve uma das menores sobretaxas, igual à da Argentina, país governado por Javier Milei, aliado de Trump, Trevisan elogiou o corpo diplomático do país.
“É bom a gente reconhecer a competência do corpo técnico do Itamaraty – foi absolutamente competente e profissional – não fizeram escândalo, não gritaram nem nada”, disse.
Ele lembrou que o secretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Maurício Lyrio, muito experiente nesse tipo de negociação, passou dias nos Estados Unidos preparando o terreno para as negociações, cujo principal argumento usado foi dizer que a balança comercial entre os dois países é favorável aos norte-americanos. Isso significa que o Brasil compra mais do que vende aos EUA.
“A ação foi tão competente que, na décima hora, o Jamieson Greer [principal negociador comercial dos Estados Unidos] fez ligação por volta das 13 horas ao embaixador Mauro Vieira [chefe do Itamaraty]. Essa conversa foi altamente produtiva. Foram marcados grupos de trabalho para a semana que vem para acertar detalhes dessa conversa”, disse. “O Brasil já está negociando, em uma atitude bastante competente. Temos que valorizar isso”, completou.
Assista à conversa do professor Leonardo Trevisan no vídeo abaixo:
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