Os assassinatos-alvo são um assunto sujo. Há qualquer coisa de intuitivamente repulsivo quando se estabelece como tática militar a execução de chefes militares inimigos. Primeiro, a covardia do método: é sempre de longe, sem ser visto, sem aviso. E sem lei, como no recente caso do líder do Hamas que foi morto em solo estrangeiro aos beligerantes. Depois, a eficácia — para que serve, afinal? Para que serve a morte bem-sucedida de um líder inimigo? Está bem, podemos concordar que o método dificulta momentaneamente a cadeia de comando do exército inimigo. Mas a seguir a este líder virá outro e com mais ódio no coração que o anterior. É assim há quarenta anos: a estratégia de decapitação nunca resultou. Acresce ainda que as lideranças políticas não são apenas militares no ativo — são símbolos da luta que os soldados travam e os ataques que lhes são especialmente dirigidos têm normalmente o efeito contraproducente de fortalecer o ânimo do inimigo e a determinação de combater, não o contrário. Finalmente, sem pretender esgotar o assunto, o método dificulta a procura de soluções não militares — em última análise, mata-se aquele com quem, um dia, se deveria assinar a paz.
Os assassinatos-alvo têm uma longa história militar neste século de guerra ao terror. Infelizmente, esta foi a doutrina contraterrorista de Obama: matar, em vez de capturar, por forma a evitar os embaraços da detenção em Guantánamo. Não fazer prisioneiros. Durante vários anos, todas as terças-feiras, os vários serviços de segurança dos Estados Unidos reuniam-se na Casa Branca “para trocar impressões sobre a biografia dos suspeitos de terrorismo e recomendar ao Presidente quem deverão ser os próximos a morrer”. O The New York Times chamou-lhe “a terça-feira do terror”. Nem fronteiras, nem soberania — o mundo inteiro era um campo de batalha onde os Estados Unidos tinham o direito de matar os seus inimigos que, por definição, deveriam ser considerados inimigos da humanidade. Esta foi a guerra mais longa e mais cara da história dos Estados Unidos e acabou recentemente com a saída catastrófica do Afeganistão. Esta é também a guerra em que Israel se inspira.
Vamos um pouco mais fundo: o terrorismo não tem solução militar. O uso da força militar para combater o terrorismo é contraproducente — aliena as populações e escala o ódio, a violência e o mutuo ressentimento. E se essa guerra se baseia numa campanha covarde de assassinatos-alvo dirigida aos líderes inimigos, então ela torna-se moralmente duvidosa e politicamente insustentável. O assassinato, em território do Irã, de Ismail Haniyed, líder do Hamas, foi um ataque covarde, ilegal e absolutamente ineficaz. O único efeito que terá é o de aproximar perigosamente Israel dos atos de terrorismo que diz querer combater e equiparar moralmente o Estado às organizações que ele próprio classifica como radicais, fanáticas e extremistas. O assassinato foi uma desgraça política para Israel e uma desgraça política para o seu principal aliado, os Estados Unidos. E uma coisa mais: talvez seja o momento de acabar com o mito da responsabilidade exclusiva de Netanyahu — os assassinatos-alvo não são uma política de governo, mas de Estado.
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