ICL Notícias
Jorge Mizael

Cientista político, doutorando pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), com foco em comportamento político e estudos sobre mudanças constitucionais. Fundador da Metapolítica, consultoria premiada no Oscar da Comunicação Política Mundial em 2020 pela The Washington Academy of Political Arts Sciences. Indicado, em 2021, como Consultor Político Revelação pela mesma instituição. Colunista do portal ICL Notícias, onde analisa questões políticas e institucionais com ênfase em governança e a relação entre o Legislativo e o Executivo.

Colunistas ICL

Jogo de forças na Câmara: a disputa silenciosa pelo comando da CCJC

As articulações políticas na disputa pelo comando da CCJC. Uma movimentação que pode redefinir a agenda legislativa e influenciar a sucessão na presidência da Câmara em 2025
10/12/2024 | 05h00

Nem tudo acontece sob os holofotes. Nas últimas semanas, uma articulação silenciosa, mas relevante, tem ganhado corpo pelos corredores do Congresso. A movimentação reflete insatisfações crescentes com a condução da atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), deputada Caroline de Toni (PL/SC), cuja gestão tem sido alvo de críticas tanto de seus aliados quanto de opositores.

Desde que assumiu a presidência da CCJC, a deputada Caroline de Toni (PL/SC) trouxe para a dinâmica da comissão uma condução muito alinhada à sua base eleitoral conservadora e bolsonarista. Inicialmente, essa condução parecia satisfazer seus apoiadores diretos, mas, com o passar do tempo, começaram a surgir ruídos.

Parlamentares de diferentes espectros políticos passaram a manifestar insatisfação com a gestão da deputada. Entre as principais críticas estão sua falta de flexibilidade na definição das pautas e a preferência por uma agenda considerada excessivamente ideológica. Isso teria resultado em constantes travamentos nas discussões e em uma condução vista por muitos como isolada.

Outro ponto de tensão mencionado é sua dificuldade em dialogar com lideranças partidárias para construir consensos mais amplos. Em um cenário político marcado pela pulverização partidária, essa postura gerou atritos, afastando possíveis aliados e criando um ambiente de incerteza quanto à tramitação de propostas relevantes.

A gestão de Caroline de Toni, que começou com promessa de mudanças, hoje enfrenta uma crescente resistência interna. A insatisfação acumulada abriu espaço para a construção de um novo perfil de presidência para a próxima sessão legislativa.

Nos bastidores, o nome do deputado Arthur Oliveira Maia (União Brasil/BA) ganhou força política nos últimos dias, por ser visto pelos seus pares como alguém que reúne os elementos considerados essenciais para liderar a CCJC em 2025: experiência política, musculatura partidária e habilidade de negociação.

Arthur Maia já presidiu a CCJC (em 2022) e exerceu um estilo descrito como pragmático e negociador. “Com ele, a CCJC andava. Tinha discussão, debates, mas a pauta andava” me disse alguém relevante no jogo em Brasília.

Nos bastidores, a construção de seu nome para CCJC vem sendo costurada vagarosamente por líderes de partidos do Centrão e até por membros de legendas oposicionistas que preferem um presidente mais aberto ao diálogo. Líderes do União Brasil, PSD e MDB, por exemplo, são peças-chave nessa articulação.

Além disso, grupos econômicos e empresariais com influência na Câmara também observam com atenção essa possível mudança. Para eles, a capacidade de Maia de construir consensos representa uma oportunidade de avançar propostas paradas na comissão.

A disputa pelo comando da CCJC vai muito além de uma simples sucessão interna. Quem assume a presidência da comissão mais poderosa da Câmara ganha uma posição estratégica para influenciar a agenda legislativa de 2025. Além disso, essa movimentação também tem sido vista como uma peça importante no próprio tabuleiro político que envolve a sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL). Nomes como Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, e Arthur Lira, atual presidente da Câmara, antes de chegarem aos seus postos atuais, foram testados e avaliados por seus pares como presidentes da CCJC.

Para muitos parlamentares, controlar a CCJC é como segurar o leme do Congresso. Projetos prioritários, reformas estruturais e até temas sensíveis para o governo só avançam se houver uma gestão politicamente alinhada. Por isso, as articulações em torno da presidência da CCJC devem ser acompanhadas com atenção. Elas não se limitam a um embate entre alguns deputados, mas são um prenúncio das grandes disputas que se desenharão na Câmara e no país.

Em Brasília, algumas semanas podem significar uma eternidade. Até fevereiro, quando as decisões serão de fato oficializadas, muita coisa pode mudar: negociações, traições e novas articulações fazem parte do jogo. Ainda assim, os ventos atuais parecem soprar a favor do retorno de Maia ao comando da comissão, consolidando-o como um nome para liderar a agenda legislativa que se aproxima.

No jogo de forças que se desenrola silenciosamente, cada movimento revela um pouco mais sobre quem pretende controlar não apenas a comissão, mas o destino legislativo do país.

Deixe um comentário

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail