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Por Cristiane Sampaio — Brasil de Fato

Após ataque às comunidades que atuam em uma área retomada na Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica, em Mato Grosso do Sul, uma nova ocorrência alarmou a região. Um incêndio causado, segundo relatos dos moradores, por jagunços que agem a mando de fazendeiros, ocorreu ao redor de um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) localizado nas proximidades do primeiro ataque, em Dourados (MS), onde vivem cerca de 300 famílias de agricultores. O grupo também atirou contra agricultores.

O fogo começou na noite de sábado (3), horas depois do incidente na TI, e veio a público somente neste domingo (4). Lideranças da organização associam a ocorrência às manifestações de solidariedade que o MST costuma fazer junto ao povo da Terra Indígena.

“Eles não mencionaram diretamente alguma ligação disso com a nossa relação com a terra indígena, mas a gente sabe que tem a ver com isso porque o MST está junto de todas as ações que os indígenas fazem e vice-versa. E ontem à tarde teve o ataque lá ao local deles, que fica perto do acampamento, para quem vem de carro”, afirma a liderança ouvida pela reportagem, que prefere não ser identificada por temer perseguições.

MST relata ação de pistoleiros

O movimento relata que os pistoleiros chegaram em cerca de 10 caminhonetes e duas motos. O grupo atirou contra os agricultores e ateou fogo no local, que não chegou a ter os barracos incendiados por conta de uma proteção colocada anteriormente na área para evitar o alastramento de focos de incêndio em eventuais situações do tipo. Apesar disso, o MST afirma que dezenas de pessoas passaram mal por conta da fumaça e uma criança chegou a desmaiar. O grupo foi rapidamente socorrido e está fora de perigo.

“Quem mais sofreu foram as crianças e os idosos. Foi muita gente atingida. Tem gente que pegou pneumonia [antes], Covid-19 ou que já tinha algum outro problema no pulmão. Tivemos casos de desmaios, ardência nos olhos, dor de garganta, ataques de asma, enxaqueca, náuseas, vômitos e outros”, cita a fonte ouvida pela reportagem.

O movimento conta que registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.) na delegacia, acionou a Polícia Militar e tem feito contato com outros órgãos. Representantes dos indígenas tentam conseguir um espaço na agenda do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, nesta segunda (5) para tratar da segurança da região e, segundo o MST, a ideia seria incluir as duas demandas na conversa.

O movimento se queixa de inoperância da Polícia Militar diante da situação do acampamento. “As autoridades de segurança se ausentam deliberadamente. E a inércia, o imobilismo em ações concretas de reforma agrária e a demarcação de terras indígenas acirram os conflitos agrários”, associa a entidade, que diz que não pretende abrir mão da luta conjunta com os moradores da TI.

“As famílias seguem firmes na luta e organizadas em solidariedade aos irmãos indígenas. A solidariedade não se abala com balas, truculências e incêndios criminosos no acampamento e no Pantanal. Viva a solidariedade de classe. Viva o MST. Viva o acampamento Esperança”, diz nota divulgada pela entidade.

O Brasil de Fato tentou, mas não conseguiu contato com a Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul para tratar das críticas registradas nesta reportagem. O espaço segue aberto para eventual manifestação posterior.

 

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