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Agricultores da Cisjordânia têm enfrentado incursões e violência quase diárias por parte de colonos israelenses. A informação é da jormalista Synne Furnes Bjerkestrand, da Al Jazeera. Segundo ela, palestinos que vivem na região relatam medo constante de terem suas casas e terras roubadas.

O agricultor Ayman Assad, de 45 anos, relata que ele, a mulher e os cinco filhos, estão apreensivos com as incursões. A principal preocupação é com a produção de galinhas do casal. A granja fica distante de sua casa, na Área C da Cisjordânia.

“Tenho medo de que minha terra seja roubada. As crianças estão constantemente assustadas e não brincam mais ao ar livre, é muito perigoso”, diz Assad.

Segundo ele, os filhos também já não frequentam mais a escola. Isso porque o Exército de Israel tem bloqueado muitas das estradas na região. “Todas as aulas são online”, conta.

Assad acrescenta também que ouve constantemente ataques ao campo de refugiados em áreas próximas à cidade de Jenin. “Podemos ouvir os ataques, com explosões e tiros”, relata o agricultor.

OCUPAÇÃO E ATAQUES

Conhecida pela produção de azeitonas, azeite e vegetais, a Cisjordânia está ocupada por Israel desde 1967. Desde então, cerca de 700 mil colonos israelenses se instalaram ilegalmente no território palestiniano. E, há anos, são registrados roubos de terra, além de ataques e destruição dos olivais.

De acordo com Abbas Milhem, diretor da União dos Agricultores Palestinianos (PAFU), em Ramallah, as incursões se intensificaram nas últimas semanas, à medida que as forças militares e os colonos organizam ataques armados. Ele próprio teve sua fazenda atacada.

Há pouco mais de duas semanas, colonos israelenses armados invadiram a quinta Milhem, dispararam contra os trabalhadores na colheita e roubaram azeitonas. Milhem disse que as exportações pararam completamente e quase 50% das azeitonas não foram colhidas devido às restrições do Exército de Israel.

“Há uma segunda guerra na Palestina que está acontecendo na Cisjordânia ocupada. É crucial compreender como isso afeta os agricultores”, acrescenta Milhem.

SEM RETORNO

A fazenda está agora sob controle militar, apesar de estar na Área B da Cisjordânia, onde a Autoridade Palestina controla, tecnicamente, os assuntos civis. Os Milhem e seus trabalhadores não conseguem regressar.

Iman Abdallah Jawabri, de 45 anos, estava na colheita de azeitonas junto com o marido quando cinco colonos chegaram ao local. “Eles atiraram em nossa direção como se quisessem nos assustar, depois, quando se aproximaram, levaram nossos celulares para nos impedir de tirar fotos. Depois mandaram que todas as mulheres saíssem e começaram a bater nos homens, obrigando-os a sentarem no chão, debaixo das oliveiras”, conta ela.

Fotografia feita com celular pelo fazendeiro palestino Salah Awwad, em agosto de 2023: colono israelense pode ser visto invadindo a fazenda de ovelhas

‘SÓ TENHO MINHAS MÃOS’

Outro agricultor, Salah Awwad, de 28 anos, perdeu sua casa e terras em Wadi Tahta, no Sul da Cisjordânia ocupada, em agosto. Segundo ele, os colonos, após a invasão, despejaram benzeno e atearam fogo, destruindo suas colméias.

Após assumirem o controle das terras, Awwad foi forçado a fugir com sua família de oito filhos. Depois de alguns dias, conseguiu recuperar suas 100 ovelhas, mas não pode mais retornar.

Colmeias queimadas pelos colonos israelenses na fazenda de Salah Awwad

“Os colonos estão cercando minha casa e não me deixam trabalhar”, revela Awwad. “Tenho medo de levar um tiro, pois eles carregam armas. O que posso fazer? Eles têm suas armas, eu só tenho minhas mãos”, completa.

Awwad acrescenta que, embora a vida já fosse difícil antes do início da guerra, os preços subiram agora acentuadamente, especialmente para os agricultores. A forragem para as ovelhas aumentou mais de um terço desde 7 de outubro. “Ninguém está olhando para nós, apenas Deus. Mas não vou me mover novamente, mesmo que tentem me forçar”, avisa.

Segundo a ONU, a pobreza aumentou 20% e o produto interno bruto diminuiu 4,2% desde 7 de outubro.

 

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