Por Juliana Passos e Nara Lacerda — Brasil de Fato
Após o registro do maior número de casos de dengue na história do Brasil em 2024, o país acende o alerta para a próxima temporada de propagação do mosquito. De janeiro até agora foram mais de 6,5 milhões de infecções, o que representa recorde absoluto para o território nacional.
Equipes de pesquisa em diversas instituições trabalham em modelos de projeção para 2025. Em entrevista ao podcast Repórter SUS, a pesquisadora Cláudia Codeço, coordenadora do InfoDengue da Fiocruz, afirmou que a maioria dos modelos preditivos estima um número significativo de casos para o ano que vem, mas não na magnitude observada em 2024.
No entanto, não há uma resposta definitiva para as dúvidas sobre o cenário futuro da dengue. A complexa dinâmica da doença é influenciada por uma série de fatores interligados, como políticas públicas de combate ao mosquito, mudanças climáticas, manejo de lixo, saneamento básico e acesso à água tratada.
“A dengue tem um processo de transmissão complexo que envolve determinantes ambientais, determinantes de imunidade da população, determinantes até da própria assistência das intervenções. Então, não é uma pergunta simples. Estamos observando uma mudança muito grande nos determinantes ambientais e isso afeta diretamente a ocorrência de dengue e outras arboviroses.”
Codeço ressalta que as previsões são essenciais para pautar ações de combate à piora do cenário. Frente ao cenário atual, no entanto, elas estão pautadas por muitas dúvidas. “Podemos usar os modelos matemáticos e estatísticos para buscar articular o nosso conhecimento e tentar fazer algumas projeções, mas elas estão imersas dentro de uma incerteza, uma incerteza de novos tempos.”
Alta nos casos de dengue
Preocupações sobre o número alto de casos em 2025 se estendem por todo o território nacional, mas algumas regiões inspiram mais cuidado. No Sul, o risco pode ser maior devido à baixa exposição histórica da população ao mosquito Aedes aegypti, o que resulta em menor imunidade natural. O Sudeste, por sua vez, aparece nas projeções como uma região particularmente sensível à doença no ano que vem, com destaque para os estados de São Paulo e Minas Gerais.
O aumento elevado da dengue não é o único foco de alerta. No podcast, a pesquisadora também falou sobre outras arboviroses, como zika, chikungunya, febre amarela e febre oropouche, que exigem atenção e estratégias de controle específicas. “Saímos do paradigma de uma para várias doenças. É uma mudança que exige uma outra forma de trabalho para lidar com múltiplos vírus ao mesmo tempo.”
No caso da chikungunya, foi observada uma alta atividade no Paraná no início de 2024, além de uma epidemia no Paraguai. Nas projeções, as regiões Centro-Oeste e Sul inspiram cuidados com essa arbovirose, que pode ser confundida com a dengue e requer diagnóstico diferencial cuidadoso.
A febre oropouche, antes mais restrita à região Norte, também tem apresentado um aumento expressivo de casos nacionalmente, o que pode estar relacionado tanto à disseminação real da doença quanto ao aumento da testagem em todo o país. Atualmente, todos os estados brasileiros têm capacidade para testar pacientes para oropouche, o que permite um mapeamento mais preciso da doença.
Frente aos desafios do combate às arboviroses, a pesquisadora ressaltou que as medidas individuais, as ações de combate ao mosquito e a tecnologia são ferramentas importantes. Mas não haverá solução efetiva para o problema sem mudanças estruturais profundas.
“O otimismo está em pensarmos melhor o meio ambiente. Precisamos pensar no lixo, que é onde estão nascendo os mosquitos, na questão do abastecimento de água. As estratégias de combate ao vetor são fundamentais em um cenário em que essas outras coisas não estão sendo feitas. Mas, para prevenir de verdade e a longo prazo, precisamos pensar no nosso meio ambiente.”
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