Você já deve ter ouvido falar das ETECs (Escola Técnica Estadual), dos cursos do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) ou do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), e das CMCTs (Centros Municipais de Capacitação e Treinamento), mas você sabe como esses cursos técnicos funcionam e qual seu impacto na juventude brasileira?
Entenda a história do ensino técnico no Brasil, um panorama do seu impacto no mercado de trabalho e como essa modalidade é uma ferramenta para democratizar a profissionalização de jovens que não teriam acesso ao ensino superior.
O que é ensino técnico?
O ensino técnico é uma modalidade de educação que tem como objetivo preparar os estudantes para o mercado de trabalho de forma mais rápida do que a faculdade, porém mais eficiente do que apenas os formados no ensino médio. Com cursos de curta duração, essa formação combina teoria e prática para capacitar profissionais em diversas áreas – de tecnologia e saúde a diversos ramos da indústria.
Quem pode fazer curso técnico?
Os cursos técnicos são oferecidos tanto por instituições públicas quanto privadas e têm como pré-requisito a entrada de alunos que estejam cursando ou já tenham finalizado o ensino médio. Além disso, em caso de interesse em ingressar em escolas técnicas públicas, é necessário concorrer às vagas gratuitas através de programas como o Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec) ou vestibulares próprios.
Se tiver interesse e deseja saber quais são os cursos técnicos disponíveis na sua região, acesse o Portal do MEC aqui.

Alunos do Ensino Médio em sala de aula. Imagem: Divulgação/Seduc
A história do ensino técnico no Brasil
O ensino técnico no Brasil começou no início do século 20, quando foi criada a primeira instituição voltada à educação profissional: as Escolas de Aprendizes Artífices. As escolas foram regulamentadas oficialmente, mais especificamente, em 1909 durante o governo de Nilo Peçanha, mas o projeto foi criado sob a presidência de Afonso Pena em 1906.
Essas escolas eram, inicialmente, subordinadas ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio e tinham o objetivo de formar operários e contramestres através de um ensino público de qualidade às classes menos favorecidas.
Foi assim que, ao longo das décadas, a educação profissional passou por diversas transformações e, durante a década de 1940, no governo Vargas, o ensino técnico foi fortalecido com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) – uma resposta à necessidade de qualificação da mão de obra brasileira, diante da industrialização e urbanização do país.
Curiosamente, o SENAI e SENAC são organizações que fazem parte do Sistema S que ainda está em vigor. Assim, ao longo da década de 80 surgiram também o SESC, SESI, SENAR, SESCOOP e SENAT, serviços nacionais que possuem o objetivo de aumentar a qualificação profissional do país.

Oficina da Escola de Aprendizes Artífices em 1910, no Espírito Santo. Imagem: Arquivo Nacional
Principais áreas de cursos técnicos no Brasil
Com o passar das décadas e desenvolvimento do Sistema S, cursos técnicos em diferentes áreas do conhecimento passaram a ser lecionados nas instituições de ensino, principalmente voltadas para serviços industriais e tecnologia, como Mecânica, Eletromecânica e Automação Industrial.
A preferência pelo investimento em cursos técnicos voltados para a indústria evidencia como a educação tem sido mais direcionada para atender às necessidades do mercado do que para suprir demandas essenciais da sociedade, como a falta de profissionais na área da saúde, que já era um problema na época e ainda persiste nos dias atuais.
Hoje em dia ainda temos uma demanda de cursos técnicos indústrias fortes no Brasil, mas outros também estão tão concorridos quanto. Entre os principais cursos técnicos no país, podemos listar:
- Técnico em Enfermagem
- Técnico em Segurança do Trabalho
- Técnico em Edificações
- Técnico em Administração
- Técnico em Radiologia
- Técnico em Eletrotécnica
- Técnico em Mecânica
- Técnico em Alimentos
- Técnico em Mecânica de Manutenção
- Técnico em Refrigeração e Climatização
O crescimento da oferta e da procura por esses cursos reflete a valorização do ensino técnico como um caminho mais democrático quando o assunto é inserção no mercado de trabalho. O Censo Escolar 2023, por exemplo, revelou um aumento expressivo nas matrículas da educação profissional e tecnológica, com um crescimento de 12,1% entre 2022 e 2023.
Segundo dados do MEC (Ministério da Educação), 2,4 milhões de estudantes ingressaram no EPT (Ensino Profissional e Tecnológico) no Brasil em 2023, evidenciando que a busca por qualificação técnica tem se tornado uma alternativa cada vez mais atrativa diante das transformações do mercado de trabalho.

O Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT) registrou mais de 770 mil técnicos no Brasil. Imagem: Reprodução
O mercado de trabalho atualmente
O mercado de trabalho brasileiro tem passado por mudanças significativas devido à digitalização, automação e novas demandas da economia. Em meio a um cenário desafiador, o ensino técnico tem se destacado como uma alternativa eficaz para aqueles que buscam uma inserção rápida, qualificada e com salários mais atraentes.
As profissões do futuro, como desenvolvimento de software, inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis, estão impulsionando a necessidade de técnicos qualificados. Além disso, áreas como saúde e logística também apresentam crescimento, impulsionadas principalmente pelo envelhecimento da população e o aumento de vendas online através de e-commerces, por exemplo.
Sobre o crescimento da procura por profissionais com formação técnica, dados do Observatório Nacional da Indústria apontam que serão necessários mais de 9 milhões de trabalhadores industriais com nível técnico no mercado de trabalho até 2025.
Se pensarmos em termos quantitativos, isso indica que 3 a cada 4 trabalhadores precisarão de formação técnica se desejam se manter atualizados e empregados.

O SENAI possui uma grade com 7 cursos técnicos exclusivos no Brasil. Imagem: Divulgação
Remuneração e direitos trabalhistas
Sobre competitividade, os salários dos profissionais técnicos variam de acordo com a área de atuação, experiência e região do país. Em geral, profissionais técnicos têm remuneração 32% superior à média de trabalhadores que possuem apenas o ensino médio ou menos.
Por exemplo, um técnico em enfermagem pode ganhar entre R$ 2.000 e R$ 4.000, enquanto um técnico em eletrotécnica pode receber entre R$ 3.500 e R$ 6.000. Já profissionais de tecnologia, como técnicos em informática, podem ultrapassar os R$ 7.000 em cargos de senioridade e técnicos em automação industrial variam entre R$ 4.000 e 7.000.
Além da remuneração, trabalhadores técnicos têm acesso a direitos trabalhistas garantidos pela CLT, incluindo carteira assinada, férias remuneradas, 13º salário, seguro-desemprego e contribuições previdenciárias.
Quais são as profissões do futuro?
As profissões do futuro no Brasil estão diretamente ligadas às mudanças tecnológicas e às novas demandas da sociedade. Elas não só representam novas oportunidades de emprego para a população, mas também uma nova forma de pensar o trabalho e como fazê-lo.
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mercado de trabalho ao automatizar tarefas repetitivas, otimizar processos e abrir novas oportunidades em diversas áreas. Um dos setores mais impactados por essa transformação é o Desenvolvimento de Software e Inteligência Artificial, que está em forte crescimento.
Nesse contexto, profissionais como Técnicos em Informática e Técnicos em Programação de Jogos Digitais desempenham um papel essencial no futuro do trabalho. Eles são responsáveis por desenvolver sistemas, criar aplicações inovadoras e aprimorar soluções tecnológicas que utilizam IA, tornando-se cada vez mais valorizados no mercado.
Em relação à remuneração, o salário médio de um Técnico em Informática no Brasil é de R$ 2.078,37, podendo variar conforme a região e a experiência do profissional. Já para Técnicos em Programação de Computador, a média salarial é de R$ 5.648,14, com variações entre R$ 5.493,88 e R$ 12.606,56, dependendo do segmento da empresa, localidade, formação e experiência.
Além disso, o setor das energias renováveis também tem um lugar especial no futuro das profissões. Com o crescimento da demanda por fontes limpas, como solar, eólica e biomassa, esses profissionais são responsáveis pela instalação, manutenção e operação de sistemas que geram e distribuem energia de maneira eficiente.

A Inteligência Artificial é uma tecnologia que permite que sistemas simulem a inteligência humana. Imagem: Gorodenkoff / Shutterstock
O ensino técnico tem se tornado cada vez mais importante para o desenvolvimento do Brasil, pois oferece uma formação rápida, acessível e com boas oportunidades de emprego. Como já vimos, mais de 2,4 milhões de pessoas estão matriculadas em cursos técnicos no país – número que comprova que eles estão se tornando uma modalidade de estudo cada vez mais valorizada.
Além de preparar os estudantes para o mercado de trabalho em menos tempo do que uma faculdade, o ensino técnico garante salários mais competitivos e atende à demanda por profissionais qualificados em diversas áreas, como tecnologia, saúde e indústria. Diante desse cenário, investir em um curso técnico pode ser um ótimo caminho para quem busca uma carreira promissora e segura.
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