ICL Notícias

Por Chico Alves

Nos últimos dias, a fraude gigantesca identificada nas Americanas voltou ao noticiário, com a operação da Polícia Federal contra o ex-CEO da empresa, Miguel Gutierrez, e a ex-diretora, Anna Saicali. Ambos tiveram ordem de prisão expedida por causar rombo de R$ 25 bilhões e provocar prejuízos a acionistas minoritários, credores e funcionários. Acabaram localizados na Espanha e fizeram acordo para responder às acusações em liberdade. No entanto, para o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ), que foi membro titular da CPI que apurou a fraude, personagens importantes estão sendo poupados nas investigações.

“Além dos dois executivos é preciso responsabilizar sobretudo os chamados acionistas de referência, porque eles  são majoritários”, disse Tarcísio ao ICL Notícias, referindo-se aos bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. “Eles se beneficiaram com o lucro inflado da companhia e beira o absurdo imaginar que não soubessem do que estava acontecendo”.

“Esse é um caso efetivo em que os bilionários terminam blindados por ‘N’ motivos”, lamenta.

Essa proteção, admite Tarcísio, aconteceu até mesmo na comissão parlamentar que tratou do assunto. “A maioria da CPI trabalhou para blindar os três acionistas de referência, mesmo com indícios fortíssimos, sobretudo quanto a Sicupira, que acompanhava a questão das Lojas Americanas mais de perto”, afirma o psolista, que é pré-candidato à Prefeitura do Rio.

O deputado conta que a maior parte dos integrantes da comissão alegava que convocar os acionistas majoritários seria um constrangimento, que poderia haver abalo no mercado. “Não deu tempo pra que a gente pudesse analisar todos os documentos que foram solicitados. Alguns documentos sequer chegaram a ser solicitados, nem os funcionários foram requisitados pela CPI. Ou seja, a CPI foi uma grande farsa”, resume.

Deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ)

Indícios não apurados na fraude das Americanas

Mesmo os indícios de irregularidades que Tarcísio descobriu não foram apurados. “Na nossa opinião, esse tipo de coisa não pode ser feita sem o conhecimento dos acionistas de referência, seria muito difícil. Teve um momento em que eu propus que pelo menos o Sicupira pudesse estar lá na CPI pra que a gente pudesse inquiri-lo, interrogá-lo. Não foi possível sequer isso. Nem mesmo uma proposta em que apenas um dos três acionistas de referência estivesse presente”, conta.

Tarcísio Motta deixa claro o motivo da blindagem e torce para que a polícia faça o serviço que a CPI não fez. “A verdade é que esses três acionistas de referência têm muito poder econômico e muita influência política. A gente espera que as investigações apontem devidamente as responsabilidades deles diante da fraude bilionária”, diz. “Mas é claro que temos um pé atrás por causa do poder que pode fazer com que eles se escapem sem ser  responsabilizados pelos seus atos. Infelizmente”.

O parlamentar diz que estamos muito longe do dia em que no Brasil a lei seja igual pra todos.

“Nós vamos seguir denunciando e cobrando que a Justiça possa cumprir o seu papel. As recentes revelações das investigações, a expectativa de novas delações premiadas que possam ser corroboradas por provas, tudo isso nos leva a imaginar que alguns deles terminem responsabilizados”, espera o psolista. “Mas só o fato de ter demorado tanto tempo já demonstra que na verdade a Justiça tem sido benevolente com os acionistas de referência”.

Tarcísio destaca que esses empresários se vendem como modelos para o empreendedorismo brasileiro. “Na verdade, trabalham na base de fraude, do roubo premeditado e, portanto, deveriam ser responsabilizados por isso. A esperança é a última que morre, mas de fato eu não estou otimista”, conclui.

 

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