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Por Heloisa Villela

Brasil Parasita é o nome da campanha contra desinformação que agitou as plataformas e mídias digitais, essa semana. Ela foi deflagrada, de propósito, no momento em que se completam 60 anos do golpe militar de 1964, no dia primeiro de abril, popularmente conhecido como o dia da mentira. O trailer que circulou na internet convida a entender o que é a Brasil Paralelo, empresa do Rio Grande do Sul, criada em 2016, que se tornou a maior produtora de conteúdos de extrema-direita do país.

Nos dois primeiros dias do esforço concentrado de acadêmicos, tuiteiros e mais de 20 produtores de conteúdo, o trailer da Brasil Parasita ocupou os primeiros lugares dos temas mais badalados do mundo digital. Ficou no topo dos trending topics do país. Rodrigo Kenji, mais conhecido como Normose ou simplesmente Kenji, disse que uma boa medida do sucesso da iniciativa são as acusações das quais ele já está sendo vítima. “Estão dizendo que sou pago pelo Eduardo Moreira, pelo George Soros”, contou.

Ele está acostumado com problemas bem mais sérios. Em 2019, foram muitas as ameaças de morte. Na época, atuava nas redes como anônimo. Não revelava o rosto nem a identidade. Mas a partir de 2022 achou que a melhor proteção seria se tornar conhecido. Assim, se acontecesse algo grave, ao menos todo mundo saberia quem ele era e de onde vinham as ameaças.

O período difícil do governo Bolsonaro não afastou Kenji do desejo de promover mudanças. Pelo contrário. No ano passado ele se reuniu com outros “cinco ou seis canais da internet para pensar em uma ação coletiva”, conta. Eles passaram 2023 pensando juntos o que poderiam fazer para dar uma resposta ao Brasil Paralelo que, além de divulgar vídeos mentirosos sobre diversos assuntos, ameaçava calar, com processos, todo mundo que fazia críticas ao conteúdo do canal.

Desinformação da Brasil Paralelo utiliza nomes conhecidos da extrema direita

Desinformação da Brasil Paralelo utiliza nomes conhecidos da extrema-direita

Ecossistema contra a desinformação

Depois da eleição do presidente Lula, eles fizeram uma chamada pública na internet para criar um ecossistema de resposta às fake news. E o conteúdo do Brasil Paralelo começou a ser analisado e estudado com cuidado. Na ação coordenada desta semana, cada produtor divulgou seus vídeos, que muitas vezes são “piorados” e têm a qualidade da imagem adulterada para reproduzir a estética dos materiais divulgados pela extrema-direita.

Para montar a campanha e definir os vídeos a serem divulgados, eles contaram com o apoio e as pesquisas dos acadêmicos do grupo Brasil Para Lerdos, que já estudavam o canal Brasil Paralelo e seus vídeos negacionistas. Os encontros e reuniões ao longo do ano passado geraram a campanha de uma semana lançada agora. Mas esta é apenas a primeira. Durante todo o ano acontecerão outros esforços concentrados como o dessa primeira semana de abril.

“É um projeto de longo prazo contra a desinformação”, diz Kenji. “E já vimos muitas pessoas fazendo ações orgânicas, entrando na campanha de forma espontânea”, contou.

Essa é a ideia. Atrair ainda mais gente para se somar à divulgação de vídeos em todas as mídias, inclusive nos grupos de WhatsApp, aqueles que as famílias divulgam. Ou alimentar quem precisa conversar com aqueles parentes que ainda não acreditam nas vacinas ou acham que a crise climática é uma invenção da esquerda.

Por isso o conteúdo do Brasil Paralelo é uma fonte abundante de desinformação. Os vídeos preconceituosos e negacionistas do canal, a divulgação das ideias de Olavo de Carvalho, oferecem um mundo de temas e possibilidades. Mas Kenji destaca que o objetivo da campanha não é destruir o Brasil Paralelo, não é contra eles. Mas contra toda uma construção de fake news. E para ter certeza de que os colaboradores da campanha não vão enfrentar problemas na justiça, o grupo tem também o apoio de uma equipe de advogados que orienta, analisa os conteúdos antes que eles sejam divulgados, e está preparada para defender quem precisar de ajuda jurídica.

O Instituto Conhecimento Liberta produziu a série “A Máquina de Moer Reputações”, que mostra como atuam as mídias como Brasil Paralelo na destruição de nomes importantes, da estatura de Paulo Freire, Marielle Franco e Maria da Penha. Esse conteúdo exclusivo está na plataforma icl.com.br

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