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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Candidaturas de policiais e militares caem 14%; Centrão concentra 51% do total

PL é o partido com mais candidatos militares e policiais; PT tem apenas 112 nomes
20/08/2024 | 05h00

Igor Mello

O número de candidatos oriundos das Forças Armadas e das policiais caiu 14% na eleição de 2024, em comparação ao pleito de 2020, mostra levantamento feito pela coluna com base em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nesta eleição, foram registradas 5.649 candidaturas de policiais e militares na ativa ou aposentados. Em 2020, foram 6.573.

Os números também mostram a associação dos quartéis com a direita. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, é o recordista de candidatos neste pleito: o partido lançou 880 nomes oriundos das carreiras armadas. Mas chama atenção o espaço que estes profissionais tiveram em partidos do Centrão: Republicanos, União Brasil, PP, MDB, PSD e Podemos e PRD concentram 2.884 candidaturas, 51% do total.

Bolsonaro indicou candidatos com esse perfil para disputas que considera estratégicas. No Rio de Janeiro, seu escolhido foi o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), que é delegado da Polícia Federal. Em São Paulo, impôs o coronel da PM Ricardo de Mello Araújo como vice do prefeito Ricardo Nunes (MDB) como condição para apoiá-lo na disputa pela capital paulista.

Em contrapartida, apenas 591 candidatos das Forças Armadas e das polícias escolheram partidos de esquerda nesta eleição. O PSB é o que tem mais nomes, com 211 ao todo. Já o PT, que ocupa a presidência, é apenas a 16º legenda na preferência desses profissionais, com 112 candidaturas.

Bolsonarização de policiais ligou alerta em governadores

A politização das Forças Armadas e das polícias foi uma preocupação de diversos atores durante o governo Bolsonaro. Governadores se articularam para manter o controle das corporações estaduais, vendo o risco de que movimentos de extrema direita ignorassem o papel de comando das autoridades estaduais e eventualmente participassem de movimentos em prol de Bolsonaro.

O motim da PM do Ceará, em 2020, era visto como um exemplo desse tipo de risco — a ação criminosa dos policiais foi publicamente apoiada pelo governo federal, com discursos favoráveis feitos por nomes como o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o então comandante da Força Nacional, Coronel Aginaldo — que é marido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), um dos principais expoentes da extrema direita no Congresso.

O líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA) tentou aprovar uma PEC que limita as candidaturas de militares da ativa, mas o texto não avançou na casa

A politização das forças policiais também foi denunciada por comportamentos seletivos em assuntos políticos sensíveis. No Rio de Janeiro, a PM foi tolerante com atos públicos de bolsonaristas — inclusive em desrespeito às normas sanitárias durante a pandemia de Covid-19. Já com atos da oposição, documentos oficiais revelados pelo portal UOL mostravam uma mobilização desproporcional de efetivo, associando diretamente partidos de esquerda a atos de vandalismo.

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