O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) informou que instaurou uma representação ética, no dia 9 de janeiro, a fim de averiguar potencial irregularidade em anúncio publicado no Jornal O Globo. Trata-se da peça publicitária “Ainda Estamos Aqui”, divulgada no jornal e denunciada pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL) no início do mês. A denúncia foi publicada pelo ICL Notícias.
O deputado chamou atenção para a publicidade veiculada pelo jornal utilizando o título do filme e do livro “Ainda estou aqui”, que narram a história de Rubens Paiva, vítima da ditadura militar, na celebração dos 150 anos do jornal O Estado de S. Paulo (“Estadão”).
O Globo escreveu no anúncio: “Duas instituições jornalísticas centenárias. Nas bancas, concorrentes. Nas trincheiras pela democracia, aliadas. Estilos diferentes. Valores em comum, que estão aqui até hoje”.
Ao ICL Notícias, o deputado Ivan Valente disse que, ao acionar o Conar, pretende “destacar o escárnio com que o Globo usa o filme para uma publicidade enganosa, ao dizer ‘Ainda estamos aqui’. Ou seja, sempre fomos defensores da democracia… da liberdade no nosso país.” O deputado argumenta que isso não é verdade. “Eles apoiaram a ditadura escancaradamente. Estão sendo hipócritas e cínicos para surfar na onda do momento. Todo mundo sabe que o Grupo Globo não só apoiou o golpe, como participou das benesses do golpe e foi um dos maiores beneficiários do regime militar da ditadura”, relatou.
Em documento enviado ao deputado, o Conar registrou: “Vimos informar que, em razão da representação enviada em 07/01/2025, o Conselho Superior do Conar instaurou, em 09/01/2025, representação ética nº 003/2025 a fim de averiguar potencial irregularidade do anúncio ‘AINDA ESTAMOS AQUI’, divulgado em jornal, sob responsabilidade do Anunciante EDITORA GLOBO S.A. Manteremos V. Exa. a par da citada tramitação, encaminhando o teor da decisão deste caso, tão logo exarada”.

Eunice e Rubens Paiva (Reprodução Arquivo Pessoal)
Deputado aciona Conar contra jornais: ‘manipulação’
Na década de 1960, Ivan se tornou líder comunitário e estudantil e militante de movimento sindical. Ele foi preso e torturado pela ditadura. Segundo o deputado, a campanha “manipula a percepção pública ao construir uma narrativa falsa de compromisso histórico com a democracia e os direitos humanos, em contradição com o apoio dado por ambos os veículos ao regime ditatorial responsável por graves violações”.
“O que a grande mídia deveria fazer era reescrever a história. Nunca houve uma retratação pública de modo a impedir que o cenário lá de trás se repita hoje. Não se pode continuar manipulando a verdade. O Globo e o Estadão apoiaram o regime que matou o Rubens Paiva. São 150 anos de defesa da elite, da exploração econômica, e não da democracia de fato. O Conar é o órgão que deve ficar de olho nisso, porque precisamos lutar pelo compromisso com a verdade”, disse.
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