Responsável por conceder liminar que permitiu ao bolsonarista Jorge Guaranho cumprir pena em prisão domiciliar um dia após condenação a 20 anos em regime fechado, por ter matado o petista Marcelo Arruda, o desembargador Gamaliel Seme Scaff, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), expressa nas redes sociais opiniões muito parecidas com Jair Bolsonaro. Ele é, inclusive, seguidor do ex-presidente e de Michelle Bolsonaro no Instagram, além de políticos como Marcos Feliciano e Carla Zambelli.
No perfil do Facebook, Scaff se mostrou a favor do voto impresso, defendeu cloroquina para tratamento da covid-19, insinua que houve omissão do governo de Lula no 8 de Janeiro, elogia Donald Trump e trata as punições aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal a Elon Musk como censura.
O desembargador determinou que Guaranho, que assassinou o tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, em 2022, cumpra pena em casa com monitoramento por tornozeleira eletrônica. O magistrado alegou problemas de saúde do assassino, que depois de ferir mortalmente Arruda, também foi baleado. “Entendo que não se pode desprezar a precária condição da saúde do paciente”, escreveu, ressaltando que o Guaranho passa por “tratamento médico especializado em decorrência de ter sido alvo de nove disparos de arma de fogo e severos espancamentos por mais de cinco minutos”.
A viúva de Arruda, Pamela Silva, mostrou-se inconformada com a decisão.
“Aqui no Paraná temos o complexo médico-penitenciário, que é o hospital de presos”, disse ela, ao ICL Notícias. “Depois da sentença o assassino já foi encaminhado para lá, onde eles têm enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, médicos…”
Há quatro anos, o desembargador mostrou-se penalizado com outro bolsonarista preso, o blogueiro Oswaldo Eustáquio, notório divulgador de fake news e incitador de golpe de Estado. Scaff criticou a punição aplicada pelo Supremo. “Que o STF aplique a este homem a Lei de Proteção aos Animais já que o está tratando como um, mas faça cessar essa vingança privativa, inadmissível numa sociedade que busca evitar a barbárie”.
Desembargador defendeu tratamento precoce na pandemia
O magistrado é conhecido por manifestar nas redes sociais opiniões em sintonia com a extrema direita.
Chamou muita atenção na época da pandemia por defender tratamentos ineficazes como cloroquina e invermectina, além de louvar o ex-presidente Bolsonaro por divulgar esses medicamentos, repetindo histórias falsas, amplamente desmentidas, de que o chamado “tratamento precoce” estaria dando certo em algumas regiões do país..
Scaff se solidarizou com os juízes Sergio Moro e Gabriela Hardt quando eles foram investigados pelo Conselho Nacional de Justiça. Defende que estados tenham autonomia para legislar sobre venda e porte de armas, para que mais armamentos possam circular na sociedade; evangélico, critica o governo e a mídia, cujos integrantes considera em maioria “sem religião”; divulgou as fake news do governador catarinense Jorginho Mello, que durante as enchentes no Rio Grande do Sul disse que caminhões com ajuda humanitária estavam sendo proibidos de circular pelo governo federal se não pagassem impostos.
Depois de consumada a vitória de Donald Trump na última eleição presidencial dos Estados Unidos, em novembro, escreveu em inglês em seu perfil no Facebook: “Congratulations to all our north-american friends. The true democracy won. We wish a great time to USA and Brazil on Mr. Trump administration. God bless our nations”. (Parabéns a todos os nossos amigos norte-americanos. A verdadeira democracia venceu. Desejamos um ótimo momento aos EUA e ao Brasil na administração do Sr. Trump. Deus abençoe nossas nações).
Não há nas redes sociais do desembargador nenhuma postagem em defesa dos brasileiros que foram deportados por Trump de forma humilhante, nas últimas semanas.
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